Total de visualizações de página

sábado, 31 de dezembro de 2011

Capítulo 8 - Amigos gostam de conversar

Capítulo 8 - Amigos gostam de conversar

"Afinal de contas", terminava a carta, "parece mesmo que meu caso não tem solução. Sei que a oração me ajudaria a resolver o problema, mas não tenho vontade de orar. O pior de tudo é que quando oro, acabo tudo o que tinha para dizer, em dois minutos. Dá a impressão de que minha oração não passa do teto!"
Já sentiu algo parecido alguma vez? A verdade é que, em todos estes anos trabalhando com jovens, descobri que o problema do jovem não é o fato de não saber que precisa orar. Todo mundo sabe que é necessário orar e que a oração é o alimento da nova natureza. Todo mundo sabe que o poder vem através da oração. A angústia do jovem está expressa na carta que registramos acima. "Pastor, não tenho vontade de orar. Sei que tenho que orar mas não consigo". O que fazer?

É preciso entender, em primeiro lugar, em que consiste a oração. "Orar", disse Eilen White, "é o ato de abrir o coração a Deus como a um amigo."
Segundo esta declaração, orar, nada mais é do que conversar com um amigo. Amigos gostam de conversar. É o que eles mais fazem. Se alguém não tem vontade de conversar com seu amigo não é porque ignore o fato de que amigos precisam conversar. O problema está no relacionamento com o amigo. Alguma coisa está errada. Alguma barreira foi criada. A amizade está abalada e a solução não consiste em ler livros ou ouvir sermões que mostrem o dever de conversar com um amigo. E preciso que lhe ensinem como resolver o problema com o amigo. Precisa de ajuda para que a amizade torne a ser como era antes. Uma vez que o problema tenha sido resolvido, o diálogo com o amigo virá espontaneamente. Em segundo lugar é necessário saber que a base de uma conversação entre amigos deve estar baseada na sinceridade. Num relacionamento de amigos verdadeiros não há lugar para fingimento ou hipocrisia. Descobrir que alguém é hipócrita com você, dói. Mas descobrir que alguém que você ama muito está sendo hipócrita com você, dói muito mais. Cristo nos ama e o que Ele espera em nosso relacionamento é, acima de tudo, sinceridade. É isso que Ele disse no Sermão do Monte. "Quando orarem, não sejam como os fingidos... não fiquem recitando sempre a mesma oração!"
A palavra grega traduzida como "recitar"é batologeo e é usada geralmente para expressar o que faz o papagaio ou o bêbado, quer dizer, falar por falar, falar sem pensar no que se está dizendo, falar pelo mero fato de falar. O que o Senhor Jesus está querendo nos dizer é que quando conversamos com Ele temos que fazê-lo na base da sinceridade, sentindo realmente o que estamos falando. Ele está pedindo que a nossa oração saia do coração e não simplesmente da boca.

Quando o menor dos meus filhos tinha cinco anos não gostava de comer verduras. Chamava de"planta" a tudo que era da cor verde. Dizia: "Não gosto de planta!"
Um dia, na hora do almoço, a mesa estava cheia de coisas verdes. Imediatamente o sorriso desapareceu-lhe do rosto. Pedimos-lhe que fizesse a oração e ele orou assim: "Pai, estou chateado. Só tem 'planta' para comer!" Sabem como ele teria orado se fosse grande? Teria agradecido a "gostosa refeição que está à mesa".

Aí está o nosso problema. Não somos sinceros. Falamos sempre a mesma coisa porque estamos acostumados a falar assim. Quando levantamos pela manhã agradecemos a Deus a "boa noite de repouso". Podemos ter virado na cama a noite toda ou podemos
ter acordado com dor nas costas, mas agradecemos a "boa noite de repouso". Temos quase de cor uma oração para as manhãs
e outra para as noites. Sempre o mesmo assunto. Podemos estar sem a mínima vontade de orar, mas nos ajoelhamos por disciplina e repetimos a oração costumeira que geralmente não dura mais de dois minutos. E ao deitarmos, experimentamos a estranha sensação de que a nossa oração não passou do teto. Por que não encarar a oração como a maravilhosa experiência de conversar com Jesus Cristo, em lugar de considerá-la o nosso dever de cada dia?

Você tem amigos? O que fala com eles? Fala sempre a mesma coisa ou muda o assunto do diálogo cada dia? Já pensou na possibilidade de bater um "papo à-toa" com Cristo? Conversar com Ele simplesmente pelo prazer de conversar? Orar sem pedir
nada, apenas para contar coisas, contar segredos, abrir o coração e relatar para Ele tudo o que fez durante o dia, mesmo que pareçam coisas sem importância? O dia em que descobrirmos a alegria de falar assim com Deus, teremos descoberto o segredo de uma vida poderosa. Isso é andar com Deus.

"Mas pastor", você dirá, "eu não sinto vontade de conversar com Deus!"
Então conte isso para Ele. Fale que não tem vontade de orar, pergunte-Lhe por que está acontecendo isso, por que é que, mesmo sabendo que deve orar, você não tem vontade de fazê-lo. Vai acontecer um milagre, tenha certeza. De repente, sem querer você vai se descobrir conversando com Deus, não um minuto nem cinco, mas vinte ou trinta. E o mais importante, aquela sensação de que sua oração não passava do teto vai desaparecer, e em seu lugar vai experimentar a delícia de conversar com Jesus Cristo como se conversasse com um amigo.
Outra coisa que seria bom lembrar é que não devemos programar Deus unicamente para assuntos espirituais. Temos que permitir que Ele participe de nossa vida diária, de nosso namoro, de nosso trabalho, dos deveres para casa que recebemos na escola, daquilo que vai dentro do coração e não teríamos coragem de contar para ninguém. Às vezes cometemos algo errado durante o dia e ao chegar a noite repetimos o de sempre: "Deus perdoa meus pecados."
Quanto tempo é necessário para repetir essa frase? Mas, como seria se em lugar
de dizer simplesmente "perdoa meus pecados", contássemos para Ele o que foi que aconteceu? Detalhes, entende? Por que não contar a luta que travamos antes de ceder à tentação, como nos sentimos depois, que lições podemos ter tirado de tudo, que aspecto de nossa vida precisamos que Ele restaure, enfim, tanta coisa. Utilizemos o tempo que seja necessário. Não precisamos ter pressa porque não estamos cumprindo um "penoso dever", estamos apenas conversando com o mais compassivo e maravilhoso amigo que um ser humano pode ter. À medida que o tempo passar e a amizade com Cristo for se aprofundando, o nosso período de oração com certeza tornar-se-á mais prazenteiro e prolongado. A nossa confiança nEle será cada vez maior, a ponto de termos tal experiência particular com Ele que, possivelmente, as outras pessoas não consigam compreender.

Conhece você a história de Gideão? Era um homem de oração. Conhecia seu amigo e dialogava com Ele. Um dia achou-se numa situação conflitante, um momento que exigia uma decisão. E ele não sabia que atitude tomar. Saiu ao campo e conversou com seu amigo. Ele nunca tinha falhado e não falharia agora.
"Senhor", disse Gideão, "preciso de um sinal. Vou deixar este pedaço de lã na eira; se o orvalho estiver somente na lã e toda terra ficar seca, então saberei que Tu queres que eu vá!"
E Deus, o amigo, respondeu o pedido. Mas Gideão ainda não estava convencido. Experimentou a Deus mais uma vez: "Ó Deus, gostaria que amanhã fosse tudo o contrário, a lã seca e o chão molhado!" E assim foi. Podemos pensar que Gideão estava brincando com Deus, mas não estava. Gideão tinha uma relação pessoal com Deus. Eram amigos. Nessa ocasião Gideão era apenas um ser humano assustado, indeciso. Precisava de um sinal porque não queria errar na decisão que iria tomar. Pediu o sinal e o amigo maravilhoso respondeu.

"Pastor", você dirá, "isso não acontece mais no dia de hoje, isso é história bíblica!"
Por que precisa ser assim? Nosso Deus não mudou de lá para cá. Continua sendo o mesmo, continua querendo ter um relacionamento de amigo para amigo com cada ser humano. É só aprender a conversar e conviver com Ele. É só amá-Lo e abandonar-se em Seus braços. Em meus tempos de estudante, ouvi uma história interessante que nunca consegui esquecer. É a história de um rapaz cujo maior sonho era ser missionário na África. Faltavam cinco dias para a formatura, quando o diretor do Seminário anunciou que a Associação Geral estava precisando de dois jovens que quisessem ser missionários na África. O rapaz não sabia se estava dormindo ou se estava acordado, porque aquele era seu maior sonho. Correu para pedir informações:
— Pastor, eu gostaria de ser um dos missionários na África. Ser missionário sempre foi meu maior sonho.
— Muito bem, filho. — respondeu calmamente o diretor — A Associação Geral está com as quatro passagens prontas.
— Quatro? — indagou o rapaz — ouvi dizer que eram só dois?
— São dois casais, meu filho. Não se pode enviar missionários solteiros para a África.
O jovem emudeceu. Ele não tinha noiva ou namorada, nem ninguém em perspectiva, e o plano da Associação Geral era que os missionários deviam viajar logo após a formatura.
— Não tem jeito de fazer uma exceção? — perguntou o rapaz — É impossível arranjar alguém para casar em tão pouco tempo.
— Não, meu filho. E é melhor você começar a procurar uma esposa se quiser realizar seu sonho de ser missionário.
Passaram três dias e nosso amigo esgotou todos os argumentos para viajar solteiro. Quando percebeu que não conseguiria, foi para o seu quarto e orou. Ele e Jesus eram amigos. Costumavam conversar. E nesse momento decisivo de sua vida, o Amigo não falharia, com certeza.
"Senhor Jesus", orou, "Tu sabes que em toda minha vida eu quis ser missionário na África. Aqui está, Senhor, a grande oportunidade, mas vejo que será impossível viajar solteiro. Preciso me casar. Se fizer a escolha levado pela pressa é possível que erre. Por isso vou pedir algo diferente, Senhor, mas farei este pedido confiando em nossa amizade no Teu amor maravilhoso e na certeza de que Tu nunca falhas. Quando o sino bater, chamando para o almoço, correrei para o refeitório, procurarei minha bandeja e sentarei na mesa mais afastada. A primeira garota que sentar à minha mesa, eu saberei que Tu a estás enviando para ser minha esposa. Casarei com ela e viajaremos para a África!"
O sino tocou. Ele correu para o refeitório e acomodou-se na mesa mais afastada e orou em seu coração. "Senhor, agora é a Tua vez, envia para mim a garota certa!" Os alunos foram entrando. Um a um, rapazes e moças foram sentando em torno das mesas. De repente, uma garota pegou sua bandeja. Olhou para todo lado. Olhou para a mesa do rapaz e, com passo firme, começou a se dirigir para lá. Nosso amigo abaixou a cabeça e começou a orar: "Senhor, por favor, envia qualquer garota, menos aquela ali!" Não tinha acabado de falar quando a moça pediu licença e sentou. Depois chegaram mais alunos.
Não será que, como aquele soldado, talvez tenhamos que dizer: "Ó Deus, eu nunca falei contigo, porque o que eu fazia não era orar, era simplesmente repetir uma oração sem sentido, costumeira e monótona, mas hoje eu quero falar de verdade, abrir-Te o coração e sentir que és meu amigo?"

Nenhum comentário:

Postar um comentário