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sábado, 31 de dezembro de 2011

Introdução

Este estudo foi retirado do blog de uma grande amiga Kátia Tabata, estou repassando tudo o que ela leu no livro e repassou aos leitores.

O livro Conhecer Jesus é Tudo, de Alejandro Bullón.


Introdução

Introdução-> O diálogo com centenas de jovens e muitas cartas que recebo constantemente, dramáticos lamentos de almas angustiadas, animaram-me a escrever este livrinho. Procuro expressar nele o que me trouxe paz e alegria ao coração. Tenho chegado à conclusão de que o jovem cristão, geralmente, não consegue ser feliz porque não entende quem é Jesus, o que Ele fez por nós e como andar com Ele. O jovem sabe tudo o que deve e o que não deve fazer, mas não consegue viver à altura das normas que conhece. Vive angustiado por seus constantes erros. Há uma força interior misteriosa que o impele a fazer tudo aquilo que não quer. Um fracasso segue-se a outro e então aquela voz mortificante: "Você não vale nada, você nunca conseguirá. O que você pretende vivendo a vida hipócrita que vive? É melhor você sair da igreja." Final da história: o jovem abandona definitivamente a Igreja, porque acha isso mais honesto de sua parte, ou fica nela cheio de frustrações e fracassos, vivendo o insucesso de uma vida sem sentido. Sorrindo para todo mundo, mas chorando por dentro.

O pior de tudo é que com o tempo pode chegar a habituar-se a esse tipo de vida. Pode aceitar isso como normal. A voz de Deus pode ir-se apagando lentamente, ficando o jovem perdido para sempre, dentro da Igreja. Este livrinho foi escrito para você, meu querido jovem. Foi escrito mais do que com tinta, com amor. Durante anos trabalhei ao lado de jovens, conversei com eles nos acampamentos, perto da fogueira, debaixo das árvores, no campo de esportes, na igreja, no escritório, pela manhã, à tarde, à noite. Anos e anos ouvindo alegrias e tristezas, vitórias e derrotas dos jovens, levaram-me a escrever estas páginas. Minha maior preocupação não é o estilo da redação, é você. Não é pureza de bela língua de Camões, é ser entendido por você. Apenas isso. Estou escrevendo do jeito que tantas e tantas vezes falei em acampamentos, retiros e semanas de oração, pensando em ajudar você, porque seu drama foi o meu durante anos, e conheço perfeitamente o que significa sentir aquela angústia de saber tudo o que a Igreja espera em você, e não conseguir satisfazer essa expectativa. Mas, acima de tudo, porque um dia descobri Jesus como meu grande amigo e aprendi que a vida cristã não é apenas viver preocupado com leis e normas, a vida cristã é uma coisa linda, é andar cada dia com Jesus num relacionamento sublime de amor.

Através destas linhas quero, do fundo de meu ser, levar você a conhecer melhor e segurar a mão dessa pessoa maravilhosa que encherá sua vida de paz e felicidade. Afinal de contas, conhecer Jesus é tudo.

Capítulo 1 - Perdido dentro da Igreja.

Capítulo 1- Perdido dentro da Igreja.

Entrou na sala sem bater e jogou-se na cadeira em frente da minha mesa. Suava. Era evidente que estava nervoso. "Pastor, estou perdido!" disse sem rodeios. Apenas três palavras. Seria desnecessário dizer mais para descrever a tragédia de uma alma em conflito. Conhecia bem aquele rapaz. Tínhamos trabalhado juntos muitas vezes, montando programações para jovens. Agora, ali, com os olhos lacrimejantes repetia: "Pode crer Pastor, estou perdido!"

Com a voz cortada pela emoção contou-me seu drama: "Sou adventista de berço. Todo mundo acha que sou um bom cristão. Meus pais acreditam que sou um filho maravilhoso. Os membros da igreja acham que sou um jovem consagrado. Eles até me nomearam Diretos dos Jovens. Muitas vezes ouço os pais dizerem a seus filhos: *Gostaria que você fosse como aquele rapaz.* Todos acham que sou um modelo de cristão, mas não é verdade Pastor, eu sou uma miséria. Acabo de fazer algo horrível e não é a primeira vez. Fiquei desesperado, angustiado como das outras vezes. Tive vontade até de morrer. Eu não sou o que todos pensam que sou."

Tentei dizer alguma coisa, mas ele cortou: "Eu não quero ser assim Pastor, eu quero ser um cristão de verdade, mas não consigo. Tenho lutado tantas vezes, tenho me esforçado, mas sempre acabo derrotado." Doeu-me ver assim aquele jovem. "O senhor está desapontado comigo, não está?", perguntou depois, com ansiedade. Despontado? Eu tinha era um nó na garganta. Procurei esconder minha tristeza, minha dor, porque na realidade o drama não era só daquele jovem. Eu tinha ali muitos jovens de minha igreja e é até possível que aquela tarde você também estivesse assentado naquela cadeira.

"Pastor, estou perdido!" Perdido? Sim, perdido dentro da igreja. É possível estar perdido dentro da igreja? Infelizmente é, sim. Existem os que, como no caso desse jovem, estão perdidos fazendo coisas erradas enquanto ninguém vê, mas existe outra classe de perdidos: aqueles que fazem tudo direito, cumprem aparentemente tudo que a igreja pede; vivem preocupados, muitas vezes, com detalhes de regulamentos e normas, mas estão igualmente perdidos. Lembro-me do jovem rico. Era um rapaz como qualquer jovem da igreja hoje. Era membro de uma congregação cujos líderes se preocupavam muito com normas, leis e regulamentos. "Não pode fazer isto", "Não pode fazer aquilo", "Fazer isto é pecado", "Fazer aquilo também é pecado". Aquele jovem cresceu tentando um conceito errado de Deus. Imaginava-O assentado no Seu trono de justiça, ditando regras, com o rosto sério e uma vara na mão, pronto para castigar o desobediente. Desde pequeno seus pais e os líderes da igreja exigiram o fiel cumprimento de todas as normas. Eram líderes preocupados com a imagem da igreja. Atualizando um pouco a história, se uma garota vestisse calça comprida, por exemplo, eles à levariam a comissão; a jovem, como amava a sua igreja deixaria de usar essa roupa e todo mundo na igreja ficaria feliz, mas ninguém estaria preocupado com o que aconteceria lá no fundo do coração da moça. Importava era que ela cumprisse a norma, que ela fosse um bom membro da igreja. E o jovem rico aprendeu desse modo a cumprir todas as normas e leis. Aparentemente era um jovem bem-comportado, ativo na igreja, participava das programações e cultos, podia ser apontado como exemplo para outros, mas alguma coisa estava errada lá no fundo: Não era feliz, tinha a sensação de que estava perdido apesar de cumprir tudo.

Certo dia, anunciaram a chegada de Jesus à sua cidade. A história está registrada no capítulo 10 de Marcos. Os líderes da igreja foram os primeiros a sair ao encontro de Jesus, sempre preocupados com detalhes da lei e das normas: "É lícito marido repudiar sua mulher?" "É pecado cortar o cabelo?" "É pecado orar assentado?" "É pecado ter um pátio de recreações ao lado do templo?" "É pecado ir à praia?" . O Senhor Jesus não Se deteve muito tempo a discutir com eles. Dirigiu-Se aonde estava um grupo de crianças, colocou-as no colo, com amor acariciou-lhes a cabecinha e beijou-lhes os rostinhos inocentes.

O jovem rico ficou emocionado ao ver o quadro. Ele nunca poderia imaginar que Jesus fosse capaz de beijar e fazer um carinho. Não era essa a imagem que ele tinha aprendido acerca do Filho de Deus. Pela primeira vez na vida, teve vontade de abrir o coração a alguém. Correu quando Jesus já estava saindo da cidade, ajoelhou-se perante Ele e disse: "Bom Mestre, que farei para ser salvo? Eu sinto que estou perdido. Não tenho certeza da salvação." Por quê? Acaso não era um bom membro da igreja? Não cumpria todas a normas? Ah! meu caro, cumprir mandamentos nunca foi sinônimo de salvação. Ser um bom membro da igreja não quer dizer estar salvo. É, de algum modo, possível obedecer a tudo e estar completamente perdido. Perdido, dentro da igreja!

O Senhor Jesus tentou levar o jovem do conhecido ao desconhecido. O jovem conhecia a letra da lei, as normas, os regulamentos e Jesus lhe disse: "Guarda os Mandamentos". Este foi um tratamento de choque. "Senhor", disse o jovem confuso, "tudo isso tenho observado desde criança, mas a angústia não desaparece, o desespero aumenta, a sensação de estar perdido é cada vez maior". Jesus olhou para ele com ternura e o amou.

Sabe... Jesus também ama você. Não importa se você é pobre ou rico, se é preto ou branco, se é feio ou bonito. Ele o ama. Ele o compreende. Isso é o que diz a Bíblia. Você é a coisa mais importante para Deus, no momento. Você com suas lutas, com seus fracassos, com seus conflitos, com suas dúvidas e incertezas; você com suas deformações de caráter, com seu temperamento irascível, é objeto de todo Seu amor e carinho. Pode ser que em algum momento de sua vida você sinta que ninguém gosta de você, que seus pais não o compreendem, que seus professores não apreciam seu valor, que a vida lhe negou as oportunidades que deu a outros, que o mundo inteiro não o aceita. Pode até ser que você não goste de você mesmo, nem se aceite. Tudo isso pode, de algum modo, ser verdade, mas Deus gosta de você, Ele o compreende. Neste momento, enquanto você lê estas linhas, Ele está bem perto de você, pronto a ajudá-lo, a socorrê-lo, a valorizá-lo.

Lá na Judéia, além do Jordão, séculos atrás, Cristo olhou com amor o jovem rico. Viu seus conflitos internos, suas lutas, suas angústias. Viu sua desesperada situação: Perdido dentro da igreja, perdido cumprindo todos os mandamentos, perdido obedecendo a todas as normas. *Sabe qual é o seu problema, filho? - disse Jesus - apenas um: Você não Me ama. Em seu coração não há lugar para Mim, em seu coração só há lugar para o dinheiro. Você está disposto a guardar mandamentos, mas você não Me ama, e enquanto não Me amar Eu não aceito nada de você. Não adianta guardar mandamentos, cumprir normas, obedecer a regulamentos; se você não Me ama, nada disso tem sentido e você continuará com essa horrível sensação, com esse vazio na alma. Vamos fazer uma coisa, Meu querido filho, você agora vai para casa, tira do coração o amor às coisas deste mundo, coloca-Me como o centro de sua vida, então venha e siga-Me.* A Bíblia diz que o jovem, (contrariado com esta palavra, retirou-se triste). Que desgraça! Estava mais pronto a guardar mandamentos do que amar o Senhor Jesus. Por quê? Talvez porque é mais fácil aparentar que se é bom do que entregar o coração a Deus. É possível que você esteja pensando: "Felizmente eu não tenho riquezas". Pode ser. Mas, às vezes, não precisamos ter riquezas para destronar Jesus do coração. Seria possível eu amar mais um artista de televisão do que Jesus? Um esporte, uma namorada, uma profissão, os estudos, coisas até boas, poderiam ocupar o lugar de Cristo no meu coração? Poderia ser que eu amasse mais a minha igreja, a doutrina da minha igreja, o nome da minha igreja, do que o Senhor Jesus?

Pergunto a você: Qual deveria ser a nossa primeira preocupação, amar a Jesus ou guardar normas? Às vezes, estamos mais preocupados que os jovens obedeçam às normas e não que amem a Jesus. O interesse de Jesus é diferente: *Dá-Me, filho Meu, o teu coração*, diz Ele enquanto bate à porta do coração humano. Há algo que nunca deveríamos esquecer: é possível de alguma maneira cumprir normas sem amar a Jesus, mas é impossível amar a Jesus e deixar de cumprir as normas. Então, qual deveria ser o nosso primeiro interesse, o nosso grande objetivo? Se o ser humano amar a Jesus com todo seu coração, será incapaz de fazer algo que magoe o seu redentor. Sua vida, em consequência, será uma vida de obediência.

Sabe qual é o nosso grande drama na vida espiritual? sabe por que não somos felizes na igreja? Falta amor por Cristo. Estamos na igreja porque gostamos dela, a sua doutrina nos convenceu, o pastor fez um apelo irrecusável. Estamos na igreja porque nossos pais querem, ou então, para agradar os filhos ou a esposa, ou simplesmente porque todo ser humano tem que ter uma religião, mas não porque amamos a Jesus a ponto de dizer: "Eu não posso viver sem Ti".

-Pastor - disse-me uma velhinha certo dia - tenho quase 60 anos de casada. Pode perguntar a meu marido e ele dirá que sempre fui uma esposa perfeita. Fiz tudo o que uma bos esposa deve fazer, agi sempre do modo certo, mas, nunca fui feliz.
-Por quê?
-Eu não amo meu marido, Pastor.
-Mas então, por que se casou?
A velhinha emocionou-se ao dizer: "Nos meus tempos de mocinha a gente não escolhia marido. Eram os pais que escolhiam marido para a gente. Um dia meu pai disse: 'Filha, daqui a dois meses você vai casar com o filho do meu compadre.' O enxoval foi preparado. A festa ficou pronta e, faltando dois dias para o casamento, conheci meu noivo. Não gostei. Nunca consegui gostar, mas casei, porque tinha que obedecer. Fui uma esposa perfeita, mas nunca fui feliz".

Como ser feliz ao lado de alguém que não se ama? O batismo é uma espécie de casamento com Cristo. Muitos cristãos talvez pudessem dizer: "Senhor, estou na igreja, batizado a cinco, ou dez ou quinze anos. Nesse tempo todo, de alguma maneira, cumpri o que a igreja pede. Mas nunca fui feliz." Por quê? Porque não é possível ser feliz ao lado que alguém que não se ama. Conviver ao lado de alguém que se ama já é uma tarefa difícil, imaginem quando não há amor. Nunca poderemos ser felizes estando na igreja porque nascemos nela, ou através de pressão social, religiosa ou familiar. Todos os motivos só tem algum sentido quando o grande motivo é o amor por Cristo. Se não for assim, a vida cristã se tornará um "inferno", um fardo horrível para se carregar. Fazer as coisas só porque estamos batizados, só porque temos que cumprir as normas de uma igreja que assumimos, só para agradar aos homens é a pior coisa que pode acontecer. Sempre estaremos penando em sair, abandonar tudo, ou então, quando ninguém vê, estaremos fazendo as coisas erradas.

Todas as normas da igreja, todas as coisas que tenhamos que abandonar, tudo que tenhamos que aprender terá algum significado unicamente quando o amor de Cristo constranger nosso ser. A nossa primeira oração não devia ser: "Senhor, ajude-me a guardar Teus mandamentos". mas"Senhor, ajude-me a amar-Te com todo meu ser".

O jovem rico partiu triste e não voltou mais. Estava pronto a ser um bom membro de igreja, mas não a entregar o coração ao Mestre.

Capítulo 2 - Eu estava perdido

Capítulo 2- Eu estava perdido

Devia ser três ou quatro da tarde, mas no interior da floresta dava a impressão de que estava anoitecendo. Nuvens negras cobriram de repente o céu e o "grito" dos trovões deixou-se ouvir na imensidão da selva amazônica, como se fosse o alarido de gigantes assutados. De vez em quando os relâmpagos semelhantes a flechas acesas, feriam a escuridão. Tive medo. Aliás, estava amedrontado desde que percebi que tinha perdido a trilha.

Corria o ano de 1972. Eu era missionário entre os índios da tribo Campa, que moram nas margens do rio Perené, na amazônia de meu país. Naquela manhã de sexta-feira, saí de casa com o objetivo de visitar uma aldeia localizada a duas horas de caminhada através da floresta. Não soube precisar em que momento perdi a trilha. Esforcei-me para achá-la, mas toda tentativa acabara me desorientando mais. Os minutos e as horas foram passando e então as nuvens escuras apareceram anunciando a tormenta. A chuva chegou junto com a noite, implacável. Assentei-me no chão, debaixo de uma árvore e vi passar o tempo, rogando a Deus que me ajudasse a sair daquela situação difícil. Não sei quanto tempo fiquei desse jeito, mas quando notei que a chuva tinha diminuído, reiniciei a caminhada em meio à escuridão e o barro. Estava completamente molhado, cansado, faminto e a esta altura, quase desesperado. "Você vai conseguir. Daqui a pouco você achará a aldeia, não pode é ficar aqui parado." Mas algo me dizia que tudo era inútil, que o melhor seria ficar ali e esperar a luz do novo dia.

Ficar ali? Molhado como estava? Sozinho? E se alguma fera aparecesse? Era a primeira vez que me acontecia uma coisa assim. Eu não conhecia a selva. Tinha chegado da capital havia poucos meses. Senti que o medo estava tomando conta de mim e corri. Corri como um louco, como se alguém estivesse me perseguindo. A chuva molhava meu rosto, dificultando a visão, se é que se podia enxergar alguma coisa naquela escuridão. Foi aí que escorreguei e caí floresta abaixo, cinco ou seis metros talvez. Estava cheio de lama. Não existia mais trilha. Só a escuridão e a música infernal que a chuva produzia ao entrar em contato com as folhas e o chão.

Eu não queria aceitar, mas estava perdido, completamente perdido. Tentei sair do buraco em que me achava. Segurei-me numa planta, mas esta desprendeu-se e tornei a cair na lama. Agarrei-me a um pequeno galho. Uma dor violenta obrigou-me a soltá-lo e acabei novamente na lama, com a mão cheia de espinhos. Tudo o que fazia era inútil, meus pés escorregavam na terra molhada e acabava sempre lá embaixo, no buraco e na lama. Fiquei algum tempo meditando em silêncio. De repente tive vontade de chorar. E chorei. Medo? Acho que já não sentia mais medo. Temor de alguma fera? Cansaço? Fome? Teria gostado que fosse por algum motivo semelhante, mas não era não.

Olhando para traz vi que minha vida na igreja tinha sido como aquela noite. A vida toda tentando sair do buraco, a vida toda tentando viver à altura dos elevados princípios de minha Igreja, de cumprir os mandamento e regulamentos e acabando sempre na mesma situação. Eu estava perdido em meio à Igreja, com todas as suas doutrinas na cabeça, cumprindo, de certo modo, todas as suas normas, mas estava perdido. E o pior de tudo: Havia dois anos que eu era um pastor.

Como num filme, minha vida toda começou a desfilar ante meus olhos. Minha mãe havia conhecido o evangelho quando eu tinha apenas quatro anos de idade. Praticamente nasci na Igreja. Não lembro um dia que ela tivesse deixado de assistir aos cultos. Sábados, domingos e quartas, ela estava sempre ali com todos os filhos. No pequeno local onde se congregava o grupinho de oito pessoas, havia um lugar especial em cima do púlpito para os Dez Mandamentos num quadro dourado. Era dever de todos saber de cor os mandamentos e guardá-los fielmente. Desde pequeno apendi as normas da igreja. Não pode fumar, não pode beber, não pode dançar, não pode ir ao cinema, não pode ir ao campo de futebol, NÃO PODE.

"Ó Deus"
, perguntava-me muitas vezes, "como é possível viver assim?" Em meu coração de adolescente sentia um estranho conflito. Sabia tudo que devia e não devia fazer, mas não conseguia viver à altura dessas normas e isto me tornava infeliz. Lembro que um dia um time profissional de futebol visitou a cidade onde eu morava. Meu irmão mais velho e eu saímos do Encontro J.A. e assistimos ao segundo tempo do jogo. Chorei naquele dia. Senti-me miserável. Achei que Deus terai que me destruir. Pensei que tinha perdido para sempre o direito de ir ao Céu.

Aos 13 anos batizei-me e meu conflito aumentou. Agora dizia para mim - "Você é um membro batizado, você não pode cometer mais tolices." Mas alguma coisa estava sempre errada na minha vida, mas eu não sabia precisar o quê. Cada vez mais orava e parecia que Deus estava muito longe. Parecia que Ele nunca iria me ouvir. Estudava a Bíblia por dever. Aos 15 anos terminei de ler "Mensagens aos Jovens" e senti-me mais pecador do que nunca. "Eu nunca iria para o céu - pensava - é impossível alcançar um tipo de vida assim." Só Deus sabe quantas vezes deitei-me na cama, sozinho, e ruminei meu desespero. Atormentava-me a idéia de um Deus sempre zangado, sempre pronto a me castigar, esperando sempre de mim o cumprimento de todas as Suas normas. Quando concluí o Segundo Grau, passei a estudar Teologia e meu conflito adquiriu dimensões maiores. "Você é um futuro pastor, você não pode errar mais, você tem que cumprir tudo, tudo." Muitas vezes me assaltou o pensamento de abandonar não só o Curso, mas a Igreja e o Lar paterno.

Hoje dou graças a Deus porque, de alguma maneira, Ele não me deixou fazê-lo. Formei-me aos 21 anos. Era o grande sonho de minha mãe e o meu também. Mas em lugar de ser feliz, sentia-me mais angustiado. "Deus! O que acontece comigo? - pensava - Porque esta sensação de que sempre estou errado, de que nada está certo?" A resposta não vinha, mas o conflito aumentava. "Agora você é um pastor, - repetia para mim - você tem que ser um exemplo para a Igreja. Se alguém, tem que cumprir todas as normas ao pé da letra é você." Como foram tristes os primeiros anos de meu ministério! Não que eu fosse um grande pecador. Meus pecados poderiam ser chamados de "suportáveis". Eram "pequenos erros". Mas eu sabia que para Deus não havia classificação de pecados, e isso me angustiava. O pior de tudo era que eu conhecia a doutrina de Cristo. Sabia de cor todas as doutrinas da igreja. Os mandamentos de cor, centenas de versos de cor. Pregava de Jesus e voltava para casa triste. Sempre com aquela sensação de que alguma coisa estava errada. Deitava e levantava cada dia com as normas e os princípios na cabeça. Andava sempre pensando no que devia ou não fazer. A angústia não desaparecia. Deus foi muito bom comigo porque, apesar de tudo, deu-me muitas almas para Sua Igreja nesses dois primeiros anos de ministério.

Aquela noite, lá no interior da mata, molhado e cheio de lama, entendi, pela primeira vez, o que acontecia comigo. Eu estava perdido em meio duma amazônia de doutrinas, normas, leis e teologia. Perdido no meio da Igreja! Olhei para um lado e para o outro. Onde estava o Jesus do qual pregava? estava lá, distante, atrás das nuvens. Na minha cabeça só havia teoria, normas e doutrinas. Chorei, chorei como uma criança, porque me sentia sozinho. Eu conhecia um nome, não uma pessoa, eu amava uma Igreja, não o maravilhoso Senhor dessa igreja, eu tinha comigo normas e regulamentos, mas não tinha a Jesus, e naquela hora não precisava de normas, não precisava de doutrinas, nem de uma igreja, precisava de uma pessoa. Chorei aquela noite a tragédia de ter vivido sempre só, tentando sair do buraco e achar a trilha certa, mas acabando sempre na mesma situação, na lama e na desgraça. A chuva estava passando, "Um milagre, - disse em meu coração - preciso de um milagre. Só um milagre poderá tirar-me daqui." E comecei a gritar com todas as forças de meu ser. Na selva, Quando alguém está perdido tem que gritar. Se alguém ouvir seu grito, gritará por sua vez e assim ambos poderão se ajudar. De repente, pareceu-me ouvir uma voz distante. Gritei. Minha voz perdeu-se na imensidão da floresta e o vento me trouxe a resposta. Alguém estava gritando ao longe. Alguém estava lá. Continuei gritando e o grito foi se aproximando. Cada vez mais e mais. Pude perceber os passos e depois ver a silhueta de alguém. Ao chegar perto de mim, vi seu rosto. Era um índio. Estendeu-me o braço, segurou a minha mão e puxou-me. Era uma mão forte, cheia de calos. Puxou-me com firmeza até chegar lá em cima. Quem é você?" - perguntei. Não respondeu. "Como você se chama?" Silêncio. "De onde você veio?" A mesma resposta. Segurou-me o braço e começou a caminhar. Seus passos eram firmes. Em momento nenhum respondeu minhas perguntas. Andamos em silêncio algum tempo até chegarmos a certo ponto. Lá embaixo havia luz. Era o lugar que estava procurando. Estava salvo. Deixei o índio e corri floresta abaixo, escorreguei e caí. Novamente ele estendeu-me o braço, levantou-me e segurou-me até chegarmos à choupana de onde saía a luz.

O irmão João apareceu com uma tocha acesa:
- Pastor, - exclamou - o senhor veio a esta hora!
- Perdi a trilha. - respondi, tirando a roupa molhada. Deitei-me perto do fogo e adormeci. Notei três coisas ao acordar na manhã de sábado. Minha roupa estava seca, perto do fogo; minha mochila estava um pouco mais além e havia mandioca para comer e chapo para beber. Minutos depois chegou o irmão João:
- Como foi que achou a trilha? - perguntou.
- Foi o índio. - respondi.
- Qual índio?
- Aquele que estava comigo ontem quando cheguei.
João olhou-me intrigado e disse:
-Não tinha nenhum índio com o Senhor.
Eu não disse nada. Dei meia volta e desci até uma pequena cachoeira para me lavar. Ajoelhei-me ouvindo a música da água ao cair e o canto dos pássaros e disse em meu coração :"Senhor Jesus, agora sei que não és uma doutrina, és uma pessoa maravilhosa. Como fui capaz de andar sozinho a vida toda? Ó Senhor, agora entendo porque não era feliz. Estava faltando Tu. Quero amar-Te Senhor. Quero segurar sempre Teu braço poderoso. Sei que sem Ti estou perdido. Quero daqui para frente estar preocupado só em segurar Tua mão de amigo, quero sentir-Te ao meu lado. Saber que não estás lá nos Céus, mas aqui, comigo. Hoje entendo oq eu estava faltando. Estava faltando Tu, Jesus querido."

Desde aquele dia comecei a encarar a vida cristã, não com uma pesada carga de normas, proibições e regulamentos, mas com a maravilhosa experiência de caminhar lado a lado com Jesus. As doutrinas começaram a ter vida para mim. Tudo o que antes era opaco e sem cor começou a adquirir brilho. O maravilhoso brilho da felicidade. Nunca quis saber se aquele índio foi um índio verdadeiro ou foi um anjo. Não era isso que importava. Aquela noite aprendi a grande lição de minha vida. Sozinho estaria sempre perdido, sempre angustiado, sempre infeliz. Precisava da ajuda de um amigo poderoso. Achei esse amigo em Jesus e por isso serei eternamente grato a Ti, ó Deus.

Capítulo 3 - Teria você coragem de Não Amá-o?

Capítulo 3- Teria você coragem de Não Amá-lo?

Pai, por que devo amar a Jesus? - perguntou certo dia um de meus filhos. Tentando achar uma resposta que satisfizesse a curiosidade do garoto, olhei bem nos olhos dele e indaguei:
- Você gosta do papai?
- Claro que sim. - respondeu.
- Mas você já pensou por que é que gosta do papai?
Seus olhinhos se movimentaram de um lado para o outro com uma rapidez extraordinária, e com um sorriso iluminando-lhe o rosto, disse:
- Porque você gosta de mim.

Você entendeu, meu amigo? O amor tem o estranho poder de cativar. O amor gera amor. Ninguém resiste ao magnetismo do amor, e uma das grandes verdades bíblicas é que Cristo nos amou de tal modo que o mínimo que podemos fazer é amá-Lo também. Mas por que é que o ser humano não consegue amar a Deus? sabe o que acontece? Às vezes é porque não entendemos o que Ele fez por nós. Falamos constantemente que Ele morreu na cruz para nos salvar, mas temo que não entendamos plenamente o que isso significa. Temos ouvido tantas vezes essa frase desde quando éramos crianças que é possível que tenhamos nos familiarizados com ela ao ponto de perdermos seu verdadeiro significado.

Anos atrás, no colégio onde estudei, fui testemunha de uma bonita história de amor. Um dos rapazes mais feios do seminário casou-se com uma das moças mais lindas. Ela era uma das moças que chegaram aquele ano. Os rapazes mais charmosos, mais bonitos, espertos e comunicativos foram desfilando um a um tentando conquistá-la, sem sucesso. Um dia um colega procurou-me e disse:
- Estou com problemas.
- O que foi?
- Estou amando.
- Parabéns! Isso é fabuloso, não é um problema.
- Espere um minuto - disse ele - estou falando daquela garota.
Cortei o sorriso e murmurei:
- Bom, aí sim é que é um problema. Você sabe, os rapazes mais charmosos e bonitos do colégio nada conseguiram. Você acha que ela vai olhar pra você?
- Eu sei - disse o rapaz, triste - eu sei disso, mas o que posso fazer se eu a amo?

Os meses foram passando e amor foi crescendo em silêncio no coração do rapaz. Na metade do ano, de repente, correram boatos de que ela abandonaria o colégio porque não conseguia pagar as mensalidades. O nosso amigo apresentou-se ao gerente do colégio e ofereceu-se para pagar as contas da moça como estipêndio de que ela tinha ganho vendendo livros. Naturalmente, isto significa para ele a perda de um ano de estudos. O gerente tentou dissuadi-lo da idéia. Mas não conseguiu."O dinheiro é meu e eu quero pagar as contas dela. E por favor, não gostaria que ela ficasse sabendo quem pagou." Assim, ele abandonou o colégio aquele ano para vender mais livros e continuar estudando no ano seguinte. Alguns meses depois recebi dele uma carta comovente!"Você diz que não vale a pena o sacrifício que estou fazendo, que ela nunca olhará para mim, o que você não sabe é que eu a amo e não posso permitir que ela perca um ano de estudos. Eu a amo. Não importa se ela nunca olhará para mim. Eu sou feliz fazendo isto por ela."

No ano seguinte ele retornou ao colégio. Seu amor estava mais maduro. Tinha certeza do que sentia e um dia criou coragem e falou com ela. Abriu o coração e declarou seus sentimentos. Foi um momento muito triste. Ela não só o recusou a proposta como o tratou mal. Alguém procurou então a moça e disse para ela: "Olha, você tem o direito de dizer não, mas podia ter sido mais delicada com ele. Não precisava magoá-lo. É verdade que ele é um garoto simples, quase insignificante, sem qualquer atributo físico, inexpressivo, mas ele ama você de tal modo que o ano passado perdeu o ano de estudo para você não abandonar o colégio, e tudo isso sem querer que você soubesse, sem esperar nada, apenas porque a ama."
A moça ficou chocada. Chorou. Perguntou ao gerente se era verdade e, ao confirmar tudo, sentiu-se ferida e humilhada. Meses depois o rapaz anunciou: "Estou namorando-a!" Todo mundo começou a pensar: "É por pena", "por compaixão". Mas um dia ela disse uma coisa muito bonita."Quando descobri o que ele tinha feito por mim senti-me magoada, chateada, ofendida. Mas á medida que o tempo passou, comecei a pensar com mais calma e perguntei a mim mesma: 'Será que neste mundo poderei achar um rapaz que me ame tanto a ponto de sacrificar, em silêncio, um ano de seus estudos sem esperar nada, mesmo sem querer que eu soubesse do sacrifício que ele estava fazendo?' Aí cheguei a uma conclusão: Como teria coragem de não amar alguém que me ama tanto?" Essa frase deveria ser emoldurada em ouro: "Como teria coragem de não amar alguém que me ama tanto?"

No dia que nós compreendermos o que realmente aconteceu naquela tarde na cruz do Calvário, sem dúvida, também faremos a mesma pergunta. Mas o que foi que aconteceu lá? Voltemos nossos olhos ao Jardim do Éden. Ao criar Deus o ser humano, deu-lhe uma ordem: "De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás." Nesta ordem estava envolvido o princípio da retribuição. Noutras palavras, a obediência merece vida e a desobediência merece morte. O homem pecou. Todos nós pecamos e em consequência a nossa recompensa devia ser a morte. Tínhamos que morrer. "O salário do pecado é a morte", mas acontece que o ser humano não quer morrer. Ele pede perdão. "Pai, perdoa-me" - ele clama. Sabe o que ele está querendo dizer? "Pai, eu pequei, mereço morrer, mas por favor, não quero morrer." Esta súplica do homem cria um conflito para Deus porque Ele é Deus e Sua palavra não muda. Se o homem pecou, tem que morrer, mas Ele ama o ser humano, não pode permitir que o homem morra. O que fazer? Se existiu pecado, tem que existir morte, "sem derramamento de sangue não há remissão." O homem não quer morrer, então alguém tem que morrer. Alguém tem que pagar o preço do pecado no lugar do ser humano. É aí que aparece a figura majestosa do filho. Ele diz:"Pai, o homem merece a morte porque pecou, mas antes de cumprir a sentença quero ir a terra como homem e viver como ele; quero assumir sua natureza, experimentar seus conflitos, suas tristezas, suas alegrias e tentações."

Foi por isso que Cristo veio a este mundo como uma criança. Ele não apenas parecia homem. Ele era um homem de verdade. Como você e como eu. Teve as mesmas lutas que você tem, sentiu-Se as vezes sozinho e incompreendido como você. Experimentou suas tentações e é por isso, e não simplesmente porque é Deus, que Ele está mais pronto a amá-lo e compreendê-lo do que a julgá-lo e condená-lo. O Senhor Jesus viveu neste mundo 33 anos. A Bíblia diz que "foi tentado em tudo, mas não pecou." Ora, se Ele viveu neste mundo como homem, e como homem foi tentado e não pecou, pelo princípio de retribuição Ele merece a vida.

Agora vamos imaginar um diálogo entre Cristo e seu Pai. "Pai - disse Cristo depois de ter vivido neste mundo - Eu vivi na terra, como um ser humano e fui tentado em tudo mas não pequei. Como ser humano ganhei direto à vida. O homem pelo contrário, pecou e merece a morte. Agora, Pai, o princípio de retribuição não impede que haja uma troca. Sendo assim, a morte que o homem merece, quero morrê-la Eu e a vida que Eu mereço porque não pequei, quero oferecê-la ao homem."
Foi isso o que aconteceu lá na cruz do Calvário. Uma troca de amor. Alguém morreu em nosso lugar para nos salvar. Uns dias antes da morte de Cristo a polícia de Jerusalém prendeu um marginal chamado Barrabás. O delinquente foi julgado e condenado à pena de morte. Devia ser cravado numa cruz. Esta era uma morte cruel. Ninguém morre por causa de feridas nas mãos e nos pés. A morte de cruz é lenta e cruel. O sangue vai se acabando gota a gota. Às vezes o marginal ficava cravado vários dias, o sol de dia e o frio à noite, a fome, a sede e a perda paulatina de sangue iam acabando pouco a pouco com sua vida. Depois do julgamento e a condenação, as autoridades chamaram um carpinteiro para preparar a cruz de Barrabás. Ali estava o delinquente e ali estava sua cruz. Preparada especialmente para ele, com suas medidas e com seu nome. Mas naquele dia os judeus prenderam Jesus. Ele também foi julgado e condenado. A história conta que um homem chamado Pilatos, tentando defendê-Lo, apresentou perante o povo Cristo e Barrabás e disse:
- Em datas como esta temos o costume de soltar um prisioneiro. A quem quereis que eu solte desta vez, Cristo ou Barrabás?
E o povo enlouquecido gritou:
- Solta Barrabás! Crucifica a Cristo!
Acho que se alguém entendeu alguma vez na plenitude do sentido a expressão, "Cristo morreu em meu lugar", foi Barrabás. Ele não podia acreditar. Talvez beliscasse sua pele para saber se realmente estava acordado. Ele, o marginal, o homem mau, estava livre. E aquele Jesus, manso e simples, que só viveu semeando amor, devolvendo saúde aos doentes e vida aos mortos estava ali para morrer em seu lugar. Eu imagino que Barrabás pensou: "Eu nunca terei palavras para agradecer a Cristo por ter aparecido. Se Ele não tivesse vindo, eu estaria condenado irremediavelmente." Já não havia mais tempo para chamar o carpinteiro e preparar uma cruz para Cristo. Além do mais, ali havia uma cruz vaga, com as medidas de outro, com o nome de outro, preparada para outro. E aquela tarde, meu jovem, quando Cristo ascendeu ao monte do Calvário carregando uma pesada cruz - eu gostaria que você entendesse bem isto - aquela tarde triste, Jesus estava carregando uma cruz alheia, porque para Ele nunca ninguém preparou uma cruz. Sabe por quê? Simplesmente porque Ele não merecia uma cruz. Aquela tarde Cristo estava carregando minha cruz. Era eu que merecia morrer, mas Ele me amou tanto que decidiu morrer em meu lugar e me oferecer o direito à vida, que como homem Ele tinha conquistado.

Finalmente os homens chegaram ao topo da montanha. Deitaram a cruz no chão e com enormes pregos atravessaram-Lhe as mãos e os pés. A cruz foi levantada e com o peso do corpo Suas carnes se rasgaram. Um soldado tinha-Lhe colocado na fronte uma coroa de espinhos. O sangue escorria lentamente pelo rosto. Um outro soldado Lhe feriu o lado com uma lança. Ali estava o Deus-homem morrendo por amor. o sol ocultou o seu rosto para não ver a miséria dos homens, o céu chorou numa torrente de chuva. Até as aves dos céus e as bestas dos campos corriam de um lado para o outro perscrutando em sua irracionalidade que alguma coisa estranha estava acontecendo. Só o homem, a mais bela e inteligente das criaturas, parecia ignorar que naquele instante seu destino eterno estava em jogo. Horas depois, quando os judeus voltaram para casa, lá naquela montanha solitária, em meio a dois ladrões, pendia agonizante o Senhor Jesus, entregando Sua vida pela humanidade.

Alguma vez você se deteve a pensar no significado daquele ato de amor?
Não foi um louco suicida que morreu na cruz. Não foi um revolucionário social que pagou por sua ousadia. Era um Deus feito homem e como homem tinha medo de morrer. Possuía o instinto de conservação. Ele tinha tanto medo de morrer que, na noite anterior, no Getsêmani, disse a seu Pai:
- Pai, eu tenho medo de morrer. Se tivesses outro meio de salvar o mundo, se passasses esta provação de Mim, Eu ficaria muito grato.
E eu tenho certeza que Deus disse:
- Ainda está em tempo de voltar atrás, Meu Filho.
a vida toda da humanidade estava em Suas mãos. Ele tinha medo de morrer, mas Seu amor era maior do que o medo, maior do que a vida. Como abandonar o homem no mundo de desespero e de morte? É isso que talvez eu nunca consiga entender. Por que Ele me amou tanto? Você entende o significado de sua vida? Você é a coisa mais importante que Cristo tem. Ele o ama de tal maneira que mesmo tendo medo da morte, aceitou-a para vê-lo feliz. Não apenas para vê-lo tornar-se membro de uma igreja, mas para vê-lo realizado e feliz.

Voltemos agora ao raciocínio inicial. O homem pecou e merece morrer. Mas Ele vai a Deus e diz:
- Pai, perdoa-me. Em outras palavras: Eu não quero morrer.
- Filho, Eu não posso mudar o princípio. O salário do pecado é a morte. Não tem outra saída. - diz Deus.
- Pai, perdoa-me, por favor, perdoa-me - clama o homem em seu desespero.
O Pastor H. M. S. Richards conta uma pequena história de quando era garoto. Diz ele que gostava de pular a cerca e colher as maçãs do vizinho. Um dia a mãe o chamou e, mostrando-lhe uma vara verde, disse:
- Você está vendo esta vara?
- Sim, mãe.
- Se você colher mais uma maçã do vizinho, vou castigá-lo cinco vezes com esta vara, entendeu?
- Sim, mãe.
Os dias passaram. As maçãs estavam cada dia mais vermelhas e o menino não conseguiu resistir à tentação. Pulou a cerca e comeu maçãs até ficar satisfeito. O que ele não podia esperar era que ao voltar para casa a mãe estivesse esperando-o com a vara verde na mão. Tremeu. Sabia o que iria acontecer. Quase sem pensar suplicou:
- Mãe, me perdoe.
- Não, filho - disse a mãe - eu falei uma coisa e terei que cumpri-la.
- Mãe, por favor, eu prometo que nunca mais tornarei a fazer isso.
- Não posso filho, você terá que receber o castigo.
- Por favor mãe, por favor - continuou suplicando com os olhos lacrimejantes.
Ela tomou entre as suas as mãos do filho e perguntou:
- Você não quer receber o castigo?
- Não, mãe.
- Então, só existe uma saída meu filho.
- Qual é?
A mãe estendeu a vara para ele e disse:
- Segura a vara meu filho. Em lugar de eu castigar você com esta vara você vai castigar a mim. O castigo tem que se cumprir, porque a falta existiu. Você não quer receber o castigo, mas eu o amo tanto que estou disposta a receber o castigo por você.
"Até aquele momento eu tinha chorado com os molhos - contou Richards - naquele momento eu comecei a chorar com o coração. Como teria coragem de bater na minha mãe por um erro que eu tinha cometido?"
Você entendeu a mensagem? É isso que acontece entre Deus e nós quando, depois de pecar, suplicamos perdão. Ele olha com amor para nós e diz:
- Filho, você pecou e merece a morte, mas você não quer morrer. Então só tem uma saída, Meu filho.
- Qual é? - perguntamos ansiosos.
- Em lugar de você morrer pelo pecado que cometeu, estou disposto a sofrer a consequência de seu erro - responde Ele com Sua voz mansa.
Richards não teve coragem de castigar a sua mãe por um erro que ele tinha cometido. Mas nós tivemos coragem de crucificar o Senhor Jesus na cruz do Calvário. Continuamos crucificando-O cada dia com nossas atitudes. E Ele não diz nada. Como cordeiro é levado ao matadouro e como ovelha muda diante dos seus tosquiadores, não abre a boca, não reclama, não exige direitos, não pensa justiça. Apenas morre, morre lentamente consumido pelas chamas de uma mor misterioso, incompreensível, infinito.

Não, eu nunca terei palavras para agradecer o que Ele fez por mim. Eu nunca poderei entender a plenitude de Seu amor por mim. Mas ao levantar os olhos para a montanha solitária e ver pendurado na cruz um Deus de amor, meu coração se enternece e exclamo como a garota do colégio:
Como teria coragem de não amar alguém que me ama tanto?"

Capítulo 4 - Milagres não se explicam... Se aceitam!

Capítulo 4- Milagres não se explicam.. Se aceitam!

Por que se torna difícil amar a Deus, mesmo sabendo o que Ele fez por nós? No capítulo 3 de São João achamos a história de um homem que não conseguia amar apesar de ter abundante conhecimento bíblico. Este homem cumpria aparentemente todas as normas, esforçava-se cada dia para ser um bom membro de Igreja, tinha até um cargo de liderança, mas não era feliz. Experimentava uma sensação de vazio na alma, faltava em sua vida alguma coisa. O pior de tudo era que nem ele próprio sabia definir o quê.

É possível que Nicodemos costumasse ficar acordado até altas horas da noite, sem conseguir dormir. Muitas vezes, deitado na cama, talvez se perguntasse: "Meu Deus, o que está faltando? Devolvo meus dízimos, guardo o sábado, faço trabalho missionário, canto no coral da igreja, sou professor da Escola Sabatina, mas sinto que alguma coisa está errada dentro de mim; tenho a impressão de que nada adianta todo o meu esforço. O que está acontecendo comigo?"

Foi talvez numa daquelas noites que se levantou e procurou Jesus. Sabia onde achá-Lo. Estudava as profecias e tudo apontava Cristo como o Messias que havia de vir. Seu problema não era falta de conhecimento. A tragédia de Nicodemos jazia no fato de nunca ter um encontro pessoal com Cristo. Amparado pelas sombras da noite, dirigiu-se aonde Jesus estava. No fundo, tinha vergonha que os outros o vissem procurando ajuda. Afinal, ele era um líder da igreja. Os homens supõem que líderes devem ajudar e não pedir ajuda. Vocês percebem o drama daquele homem? Cheio de teoria, cheio de doutrinas; cheio de profecias, sozinho, precisando de ajuda, angustiado, porém impedido, por causa do seu status, de correr como o jovem rico e cair aos pés de Cristo dizendo: "Senhor, estou perdido! O que preciso fazer para ter a vida eterna?"

Não foi difícil para Nicodemos achar Jesus. Cristo estava nos Montes das Oliveiras esperando com os braços abertos. Seus olhares se encontraram. Era o encontro da paz e do desespero, da calma e da angústia, da plenitude e do vazio, da certeza e da incerteza. Aqueles olhos de Cristo olhavam na alma, perscrutavam o coração, irradiavam amor, paz e perdão. Nicodemos tentou abrir o coração, contar suas tristezas, falar de seus fracassos, da confusão toda que o inquietava, mas não conseguiu. Seu orgulho falou mais alto.
- Rabi - disse - bem sabemos que é Mestre vindo de Deus, porque ninguém pode fazer estes sinais que Tu fazes se Deus não estiver com ele.
Tenho a impressão de que, na realidade, ele quis dizer: "Eu te reconheço como Mestre, e vim falar contigo de mestre para mestre. Vamos estudar um pouco as profecias que se relacionam com as coisas que Tu fazer." Jesus fixou os olhos em Nicodemos e viu através deles uma alma angustiada. Não era de profecias que ele estava precisando, nem de teologia, nem de doutrinas. Às vezes, nós os humanos, vivemos preocupados em procurar o conhecimento teológico, quando na realidade a nossa necessidade é outra.
- Nicodemos - disse Cristo - você precisa nascer de novo. Você precisa ser convertido. Este é o seu problema e enquanto você não experimentar o novo nascimento não adianta estar na igreja, nem conhecer a doutrina, nem ter um cargo de liderança. Nada substitui a experiência da conversão.
Aquela declaração foi como uma bofetada no rosto de Nicodemos.
- Como pode o homem nascer de novo sendo velho? Pode porventura retornar ao ventre materno?- perguntou ele, simulando não entender.
E Cristo, com um ar de tristeza nos olhos:
- Pare com isso, Meu filho. Você entendeu perfeitamente o que Eu quis dizer. Estou falando de conversão porque este é o ponto de partida de uma vida feliz. Você vive angustiado e triste porque sua cabeça está cheia de doutrinas, leis, normas e regulamentos. Você se sente frustrado porque sempre tentou fazer as coisas da maneira certa e nunca conseguiu. Hoje, querido filho, quero transformar seu ser completamente, e você, em lugar de aceitar, tenta se esconder atrás do preconceito e da ironia?
A história de Nicodemos fica sem conclusão no capítulo 3 de São João, porque, aquela noite, ele não aceitou o convite de Cristo. Era duro demais reconhecer que ele, Nicodemos, o teólogo, o líder, o bom membro de igreja, não fosse convertido. Retirou-se triste e frustrado como veio.

Você acreditaria se eu dissesse que o problema de Nicodemos é também o nosso?
Corremos talvez hoje o risco de pensar que, porque estamos na igreja, batizados, estamos convertidos. Mas não é sempre assim. Não podemos confundir conversão, com convicção. Ambas as palavras soam parecidas, mas tem significados completamente diferentes. A primeira tem que ver com o coração e a vida, a segunda limita-se apenas ao que vai na cabeça.
Um dia desses, alguém nos deu uma série de estudos bíblicos. Aceitamos a doutrina do sábado, da lei, do dízimo, do Espírito de Profecia, do santuário e finalmente decidimos nos batizar. Ao sair do tanque batismal pensamos: "Agora estou convertido." Mas talvez não seja assim. Estamos convencidos da doutrina, com certeza, mas estar convencido não significa estar convertido. E aí começa a confusão toda. Passamos pela vida como Nicodemos, cheios de teoria e de doutrina, muitas vezes sabendo tudo isso desde a meninice, porque nascemos num lar cristão, mas vivemos com essa permanente sensação de vazio, de impotência, de fracasso. Queremos amar Deus e não conseguimos. Por quê?

Vamos tentar entender melhor este assunto da conversão. Para isto temos que remontar novamente ao Éden. Lá encontraremos Adão e Eva, recém-saídos das mãos do Criador. Eles eram seres perfeitos, tinham sidos criados assim, sem propensão para o pecado, com capacidade para obedecer. Eles se deleitavam na obediência. Obedecer era para eles tão fácil como para você é respirar. Não precisavam se esforçar para isso. Tinham uma natureza perfeita. O problema começou quando eles pecaram, porque nesse instante eles perderam sua natureza perfeita e adquiriram uma natureza estranha, incapaz de obedecer o que se deleita nas coisas erradas da vida. Chamaremos a isso de natureza pecaminosa. Agora, com essa natureza pecaminosa, o homem não consegue mais obedecer. Agora, o que para ele é simples como respirar é a desobediência e o pecado. Infelizmente essa natureza pecaminosa foi passando de pai para filho até o dia que nós viemos a este mundo. O dia que nascemos, nascemos com essa natureza e com ela é impossível obedecer. É isso o que a Bíblia diz: "Pode acaso o etíope mudar a sua pele ou o leopardo as suas manchas? Então podereis fazer o bem, estando acostumados a fazer o mal" - "Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto, quem o conhecerá?" - "Porque o coração procedem maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias."
- Pastor - você deve estar se perguntando - isso quer dizer que eu nunca conseguirei obedecer?
- Do jeito que você nasceu - respondo - com essa natureza que recebeu de seus pais, não.
Foi isto o que Cristo quis dizer a Nicodemos quando falou: "Se alguém não nascer de novo, não pode ver o Reino de Deus."

George E. Vandeman, em seu livrinho How to Live With a Tiger (Como Viver com um Tigre)apresenta uma interessante ilustração: "Suponhamos - disse ele - que um dia um lobo começa a observar a vida das ovelhas e depois de um certo tempo chegue à conclusão de que o melhor modo de vida é a vida das ovelhas e decida juntar-se a elas. Para isso, coloca uma pele de ovelha em cima e passa a conviver com as ovelhas. Como você acha que ele se sentirá quando chegar a hora de comer e as ovelhas comerem com prazer o capim verde? Você acha que ele se deleitará comendo capim? Suponhamos também que ele seja um lobo honesto, e não queira voltar atrás na decisão que tomou, você acha que cinco ou dez anos depois ele finalmente aprenderá a gostar de capim? Não, claro que não, porque ele é lobo, com paladar de lobo e com natureza de lobo."
Continuemos imaginando a vida do lobo em meio às ovelhas. A princípio talvez ele se esforce para viver exatamente como as ovelhas vivem, embora tudo isso seja contrário a sua natureza. Mas o tempo vai passando, o entusiasmo da decisão que tomou vai diminuindo e, finalmente, depois de um ou dois anos, não consegue mais ficar amarrado a um tipo de vida alheio a sua natureza. Aí, um dia, enquanto as ovelhas dormem, ele se levanta em silencio e vai embora. longe do rebanho, tira a pele de ovelha e vive como lobo, come como lobo, enfim, faz tudo o que os lobos fazem. Depois de ter dado rédeas soltas aos seus instintos e gostos de lobo ele retorna, coloca novamente a pele de ovelha e no sábado está com as ovelhas, como se nada tivesse acontecido. Nada? Aconteceu sim, e ele sabe disso, e ele chora em silêncio por isso.

Um dia, não conseguindo suportar mais esse tipo de vida, clama do fundo do seu coração: "Ó Deus, Tu sabes que quero ser ovelha de verdade, mas Tu conheces minha verdadeira natureza, sou um lobo, nasci lobo, não tenho culpa de ter nascido assim. Mas, Deus, por favor, não quero ser mais lobo, quero me tornar uma ovelha de verdade. Faze alguma coisa por mim."
E deus fez o milagre da transformação. Com um toque milagroso, converte este lobo numa ovelha de verdade, com paladar de ovelha, com mente de ovelha. É justamente isto o que Deus está prometendo. "Então aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados de todas as vossas imundícias e de todos os vossos ídolos... Dar-vos-ei um coração novo, e porei dentro de vós espírito novo."
São Pedro acrescenta: "Pelas quais nos tem sido doadas as Suas preciosas e mui grandes promessas para que por elas vos torneis co-participantes da natureza divina, livrando-vos da corrupção das paixões que há no mundo."
Entende meu amigo? Deus está prometendo dar-nos uma nova natureza, a natureza de Cristo, que gosta de amar a Jesus e se deleita na obediência. Isso é conversão.

Ellen G. White o explica assim: "Não somos, por nós mesmos, mais capazes de viver vida santa, do que o era aquele homem de andar. Muitos há que compreendem a própria impotência, e anseiam aquela vida espiritual que os porá em harmonia com Deus; estão vãmente lutando por obtê-la. Em desespero chamam: *miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte!* Que estas almas acabrunhadas, lutadoras, olhem para cima. Ninguém vê a mão que suspende o fardo nem a luz que desce das cortes celestiais. A bênção vem quando pela fé a alma se entrega a Deus. Então, aquele poder que olho algum pode discernir, cria um novo ser à imagem de Deus."
Um novo ser, você compreende? Um ser capaz de amar, um ser que queira obedecer, um ser que se deleita em fazer a vontade de Deus. Não é essa uma promessa maravilhosa? Ninguém vê, porém o milagre acontece porque a promessa não é humana, é divina. Há uma coisa que deveríamos entender antes de continuar, é que nem todas as conversões são iguais. Algumas acontecem num instante, um homem pode ser transformado em dois segundos, mas outras vezes esse processo é gradual e leva tempo. Algumas conversões são acompanhadas por uma grande emoção. Outras não. Isto não significa que a primeira seja necessariamente mais autêntica do que a segunda. Alguns cristãos podem lembrar o momento exato de sua conversão, outros não pode fazê-lo. Saulo de Tarso caiu do cavalo e foi convertido, mas não pense que todas as pessoas devam cair do cavalo para ser convertidas. O que realmente importa é que a mudança de natureza aconteça, a transformação é uma realidade, de repente, o lobo vira uma ovelha genuína.

Desenvolvi o primeiro ano de meu ministério numa favela, na capital de meu país. Era um morro habitado por gente necessitada e carente, em sua maioria, mas aquele lugar tornou-se cenário de conversões maravilhosas que o Espírito de Deus operou.
Certo dia, andando pelos estreitos caminhos daquele morro, fui surpreendido por um cachorro que começou a latir. Inexperiente, cometi a imprudência de correr e em poucos segundos não era só um mas um bando de cachorros que corria atrás de mim. Assustado tive que empurrar a porta de uma casa e me esconder dos cães enfurecidos. Mas, quando percebi onde estava, teria preferido que os cachorros me pegassem lá fora. Era um quarto escuro e pouco ventilado, iluminado por duas velas grandes no centro de uma mesa. Havia um cheiro horrível. Em cima da mesa podia-se ver uma pequena montanha de cinza de cigarro e folhas de coca. Em torno da mesa, mulheres bêbadas e, no chão, garrafas vazias de bebidas alcoólicas.
Em fração de segundos, me vi rodeado pelas mulheres. Pedi desculpas. Expliquei que tinha entrado por causa dos cachorros, mas de nada adiantou a cortesia e as boas maneiras. Tive que ser de certo modo, mal educado, e à força consegui sair. Alguns dias depois uma daquelas mulheres abortou-me na rua.
- Foi você que entrou em casa outro dia perseguido pelos cachorros?
- Sim - disse, e pedi desculpas mais uma vez.
- Desculpas? - surpreendeu-se - Não senhor, acho que nós é que temos que nos desculpar.
Expliquei para ela que era pastor e que estava pregando todas as noites, no salão na parte alta do morro, e convidei-a para assistir às nossas conferências. Aquela noite, para minha surpresa, ela esteve lá. Tinha bebido bastante e dormiu durante a pregação. A noite seguinte retornou e também a outra e a outra. Sempre bêbada, dormia enquanto eu falava. Um dia, ela me procurou:
- Pastor - disse angustiada e cheirando a álcool - preciso falar com o senhor. Minha vida é uma tragédia, o senhor pode pensar que eu não entendo nada do que fala porque sempre estou bêbada, mas infelizmente, entendo tudo, pastor, e estou desesperada."
Olhei para ela com simpatia. Era fácil ver no rosto, nos olhos, nas lágrimas que resistiam em sair, a tragédia de uma vida sem Cristo. Ela era uma alcoólatra inveterada.
- Pastor - continuou - eu tive uma família bonita, um marido honesto e trabalhador e filhos maravilhosos. Não vivíamos na abundância, mas nunca faltou o pão de cada dia, até que fiquei viciada na bebida. Não sei como aconteceu. Cheguei a um ponto em que a bebida era o mais importante em minha vida. Às vezes meu marido chegava a noite cansado de trabalhar e me achava bêbada, os filhos com fome e abandonados. Esse foi o início da desgraça. Ele começou a me bater, mas nem por isso eu parava de beber. A vida em casa tornou-se insuportável. Um dia enquanto ele estava no trabalho, tive a coragem de pegar minhas roupas e abandonar o lar, o marido e os filhos, o menos dos quais tinha apenas dois anos. Aí, vim morar neste morro onde, para sobreviver, me entreguei a uma vida de promiscuidade e abandono."
Doía, doía muito ver como o pecado arruína completamente a vida de uma pessoa e a leva muitas vezes a cometer coisas que a própria pessoa não entende depois.
- Todo este tempo em que estive assistindo às conferências - seguiu falando a mulher - tenho sentido que minha vida não pode continuar assim; tenho que parar de beber. Mas pastor, quando estou lúcida, lembro de meus filhos, de meu marido e a angústia toma conta de mim, então para esquecer torno a beber e assim minha vida entrou num círculo vicioso."
As promessas de Deus é que "Ele nos libertará das concupiscências deste mundo." - "Ele nos manterá sem queda." - "Ele nos dará uma nova natureza". - "Ele transformará o nosso ser." E foi isso o que aconteceu com aquela mulher. Desde o fundo do poço de desespero e culpabilidade, desde as profundezas das sombras de miséria e angústia, ela clamou a Deus: "Ó Senhor, transforma meu ser, muda o rumo da minha vida, liberta-me da escravidão do vício que me domina, dá-me uma nova natureza." E Deus ouviu-a. Ninguém viu, mas o poder de Deus criou uma nova criatura. Ela largou a bebida, mas passou a conviver coma tristeza do abandono do marido e dos filhos. Era uma realidade lacerante, feria as carnes e fazia sangrar o coração. Doía vê-la sofrendo e foi por isso que procurei o marido. Homem bom, aquele. Levantava-se toda manhã de madrugada, preparava a comida para os filhos e rumava pra o trabalho. O garoto mais velho de doze anos, esquentava depois os alimentos para os irmãos mais novos. O homem retornava para casa à noite, cansado e ainda tinha que arrumar a casa e levar a roupa. Era uma vida sacrificada. Foi difícil falar alguma coisa vendo um quadro semelhante. Finalmente, após algumas visitas, disse para ele que vinha em nome da esposa. Ele mudou de atitude. Quase cuspindo fogo pelos olhos disse: "Não me fale desta mulher, ela arruinou minha vida e a vida de meus filhos, aliás, ela acabou com a nossa vida porque o que nós vivemos hoje não é mais vida."
Os dias foram passando e com o tempo tornamo-nos amigos. Falei para ele que a esposa que o abandonara tinha morrido, que hoje aquela era outra mulher, que não bebia mais, e que sofria por ter abandonado a família. Ah! O Espírito de Deus consegue coisas que para o homem são impossíveis. Meses depois, ele aceitou ver a esposa. Marcamos o encontro. Aquela noite orei a Deus e pedi que fizesse mais um milagre na vida dessa mulher, que tocasse o coração daquele homem, que reconstruísse aquele lar desfeito pelo pecado. Sabe? Existem momentos que marcam a vida para sempre. Aquele foi um desses momentos na minha vida.
Lá estava o marido, rodeado dos filhos. A mulher aproximou-se e caiu aos pés deles.
- Perdoem-me - disse ela chorando - perdoem-me, eu não mereço, mas por favor, me perdoem. Já perdi todos os direitos que tinha, não sou ninguém, apenas quero que me permitam cuidar de vocês. Serei uma serva, nunca reclamarei de nada, só quero ficar perto e cuidar de vocês e fazer tudo o que deixei de fazer...
Foram momentos dramáticos e emotivos. No silêncio do coração continuei orando. De repente o home levantou a mulher e perguntou:
- Você não bebe mais?
- Não. Há meses que Cristo tirou a bebida de mim.
- É inacreditável. - completou o marido emocionado - Quando o pastor falou que você não bebia mais, eu não acreditei, quis conferir com meus próprios olhos, mas é verdade, você não bebe mais. Você diz que foi Cristo que tirou a bebida de você? Então eu quero conhecer o Cristo que foi capaz de tirar fazer esse milagre.
A estas alturas, dei meia-volta e, escondendo duas lágrimas, retirei-me do lugar. Meses depois tive a alegria de ver batizados aquele homem, sua mulher e o filho mais velho de doze anos.

Como Deus transforma? Não sei. Mas eu sei que Ele é capaz de mudar. Ao longo de meu ministério tenho visto muitas vidas transformadas. Marginais, jovens viciados em drogas, bêbados, homens e mulheres que pareciam não ter mais esperança de recuperação. E se Deus foi capaz de transformar todos eles, não poderá também transformar nosso ser?
- Pastor - você dirá - eu não sou como aquele homens.
Eu sei disso. Mas Nicodemos também não era assim, e Cristo disse para ele: "Você tem que nascer de novo, você precisa que eu mude sua vida, você precisa de uma nova natureza." E Nicodemos achou que, porque conhecia bem a doutrina, já tinha sido convertido e achou que aquela declaração de Cristo era uma ofensa para ele e foi embora. Durante três anos continuou vivendo em meio à igreja e carregando aquele sentimento de que alguma coisa estava errada com ele. Continuou assistindo aos cultos, desempenhando suas responsabilidades de liderança, mas vazio e triste por dentro. Até que um dia os judeus prenderam Jesus e O levaram ao topo da montanha do Calvário. Aí, Seu corpo foi levantado. Embaixo, entre a multidão estava Nicodemos, tremendo. E ao ver a silhueta de Cristo se projetar no horizonte, lembrou a noite de três anos atrás, quando Jesus disse: "Assim como Moisés levantou a serpente no deserto, é necessário que o Filho do homem seja levantado para que todo aquele que nEle crê não pereça mas tenha a vida eterna."
Nicodemos não conseguia resistir mais. Eu imagino que se aproximou da cruz. Talvez o olhar agonizante de Cristo tivesse alcançado lá embaixo e é possível que Nicodemos clamasse: "Por favor Jesus, não vá embora. Não sem transformar meu ser. Dá-me a nova natureza de que falou aquela noite." E o clamor de Nicodemos foi ouvido. Cristo transformou seu ser. E aquele homem medroso que um dia procurou Jesus amparado pelas sombras da noite, não teve medo de confessar publicamente a Cristo como seu Salvador. E junto com José de Arimatéia reclamou o corpo de Cristo para dar-lhe sepultura.

Isso não é maravilhoso? O milagre da conversão pode acontecer. Com você, amigo, com qualquer um que o aceitar. É só correr para a cruz de Cristo e reconhecer três fatos. Primeiro: "Eu sou um pecador." Não existe nada mais difícil para um orgulhoso coração humano do que reconhecer, não uma fraqueza, não um problema de personalidade, mas o pecado. Nada de jogar a culpa ao fato hereditário, ou o ambiente em que fomos criados ou à falta de oportunidade que tivemos. Temos que correr a Cristo e clamar: "Senhor ajuda-me, sou um pecador. Sou o único responsável, não tenho explicação, apenas quero ser perdoado."
Segundo: - doloroso fato - Eu não posso". Não adiante querer ser bom por nossos próprios esforços. A humanidade está ficando louca porque fala de "autodisciplina", de "energia interna", de "força mental". Ela esqueceu de olhar para Cristo e está olhando para dentro de si em busca de solução e só acha fracasso e frustração. Nada disso! Olhemos para Cristo e falemos: "Ó Senhor, já tentei de tudo e não consegui! Carrego dentro de mim uma natureza estranha que me leva para o pecado. Por favor, ajuda-me porque eu não posso."
E agora, o fato mais extraordinário: "Deus pode!" Sim, meu amigo. Ele pode. Olhemos para o alto da montanha e como Nicodemos caiamos aos pés da cruz, clamando no silêncio do coração:"Deus, por favor, muda o rumo de minha vida, dá-me uma nova natureza."

A Palavra de Deus disse que o milagre acontecerá. Pode acontecer agora, neste momento, enquanto suas mãos seguram este livro. Você não está sentindo o Espírito de Deus trabalhando em seu coração. De repente você sente vontade de fechar o livro e jogá-lo no lixo, existe uma coisa que se revolta dentro de você. É a natureza pecaminosa que não gosta das coisas certas. Mas a voz de Deus continua chamando seu coração. Você sente. E pergunta: "Como pode ser isto? Como pode Deus mudar minha vida num segundo?" Não sei, milagres não tem explicação e a conversão é um milagre.
Eu não posso explicar como a água pura e simples pelo toque maravilhoso de Cristo um segundo depois era vinho de primeira qualidade. Nenhum químico do mundo pode explicar. Milagres não se explicam.. Se aceitam!
Como foi possível um cego de nascença viver em escuridão anos e anos e, num segundo depois do toque divino, estar enxergando? Oftalmologista nenhum pode explicar isso. Milagres não se explicam.. Se aceitam!

Nesse momento, agora, Deus quer fazer um milagre com você: o milagre da conversão. estou orando enquanto escrevo as últimas linhas deste capítulo, orando por você sem conhecê-lo mas com a certeza de que você dirá em seu coração: "Senhor, eu aceito o milagre."

Capítulo 5 - É Possível Conviver com um Lobo?

Capítulo 5- É Possível Conviver com um Lobo?



-"Pastor, eu acho que não estou convertido. Constantemente sinto vontade de pecar. A minha vida é um permanente conflito. Quero servir a Jesus, mas ao mesmo tempo sinto vontade de fazer coisas erradas. Tem solução para mim?"
A pergunta veio de um rapaz simples de 20 anos, lá do sertão de Pernambuco, embora pudesse ter saído dos lábios de um empresário bem-sucedido dirigindo seu Escort XR3 na Avenida Paulista. O problema é o mesmo para homens e mulheres, jovens e adultos, ricos e pobres. Por alguma razão, temos a idéia de que no momento da conversão a nossa luta acaba e que a partir desse momento não pecaremos mais; seremos perfeitos, no sentido de ser exemplo de vida para outros. Mas por que é que a partir do momento que nos entregamos a Cristo a nossa luta se torna maior e o conflito aumenta?

Antes de mais nada temos que entender o que acontece no momento da conversão. Muitos têm a idéia de que na hora da conversão Deus tira de nós a natureza pecaminosa e a joga fora para sempre, colocando em substituição a nova natureza que gosta de amar e obedecer. Isto não é completamente verdade. Seria maravilhoso se fosse assim, já que nunca mais teríamos vontade de pecar. A fonte da "concupiscência e das paixões deste mundo" não existiria mais. Em conseqüência, nossa vida seria como a de Adão e Eva antes da queda. Infelizmente não é assim que sucedem as coisas. Ao converter-nos, Deus coloca dentro de nós uma nova natureza, a natureza de Cristo. Mas o que acontece com a velha natureza pecaminosa, a natureza de lobo?Ela não sai, como muitos imaginam. Ela fica aí, agonizante. "Aquela parte que em cada um de vocês gosta de pecar, foi esmagada e mortalmente ferida", afirma o apóstolo. E agora? Agora passamos a ser pessoas com duas naturezas: a natureza de Cristo, nova, recém-implantada e a velha natureza pecaminosa, "esmagada e mortalmente ferida" que continua dentro de nós. O ideal seria que a velha natureza permanecesse sempre "mortalmente ferida". Mas essa situação não é definitiva; é circunstancial. Na primeira oportunidade que receber alimento, ela ressuscitará, e se continuar sendo alimentada, ela recuperará completamente as forças e lutará para expulsar de nossa vida a nova natureza. É por isso que depois da conversão a luta aumenta. Existe muito mais conflito num homem depois de sua conversão do que antes dela. Você está surpreso? Tente entender o que estou dizendo. Depois de aceitar a Jesus você pode esperar maior luta em seu coração, um conflito interno, que muitas vezes o levará ao desespero, se você não parar a fim de entender o problema. O assunto é simples.

O homem sem Cristo tem uma só natureza, a natureza com que nasceu e essa natureza faz as coisas erradas na hora que deseja. Não existe ninguém para se opor. Não existe luta, não há conflito. Mas você entregou sua vida a Cristo, você experimentou o milagre da conversão, você tem agora uma nova natureza e ela se opõe à velha. Você entende por que a vida do homem inconverso pode parecer mais leve? Ele só tem uma natureza e ela assume o controle da vida, sem oposição. Mas logo depois da conversão, quando o homem pensa que a velha natureza foi embora, descobre que ela continua dentro e o conflito começa. Ele tem duas naturezas e as duas estão lutando.

Você conhece a história de São Paulo?
Houve um momento em sua vida em que ele chegou à beira da loucura. Na sua carta aos cristãos de Roma ele diz: "Eu não entendo o que faço, porque não faço o que gostaria de fazer. Ao contrário, faço justamente aquilo que odeio.. E isto mostra que de fato já não sou eu quem faz isso, mas o pecado que vive em mim.. Assim, eu sei que é isto que acontece comigo.. Dentro de mim sei que gosto da Lei de Deus. Mas vejo que uma lei diferente age em meu corpo, uma lei que luta contra aquela que minha mente aprova!"
Entende, meu amigo? Duas naturezas, duas forças lutando dentro do apóstolo Paulo. Um conflito que o levou ao desespero, porque no verso seguinte ele clama: "Que situação terrível esta em que estou! Quem é que me livrará da minha escravidão a esta mortífera natureza interior?"

Agora pergunto.. No momento em que Paulo escreveu a carta aos Romanos estava ou não convertido? Claro que estava. Ele tinha sido convertido lá na estrada de Damasco, quando se encontrou com Jesus e caiu do cavalo. Porém, aqui está a experiência de um homem convertido sentindo dentro de si o conflito que produz a luta das duas naturezas. Não se preocupe meu amigo por causa da tensão e do conflito que vêm após sua conversão. Duas naturezas, entende? Você e eu somos homens com duas naturezas e elas não gostam uma da outra. O apóstolo Paulo um dia conseguiu entender este conflito, e aí ele escreveu: "Isto é o que eu quero dizer: Deixem que o Espírito de Deus dirija suas vidas, e não obedeçam os desejos da natureza humana. Porque o que a nossa natureza humana deseja é contra o que o Espírito quer, e o que o Espírito quer é contra o que a natureza humana deseja. Os dois são inimigos, e por isso vocês não podem fazer o que querem!"

"Pastor", você dirá, "quer dizer que toda minha vida vai ser uma vida de conflito?"
Não, necessariamente; e isso vai depender de sua decisão. As duas naturezas estão hoje em luta mas, finalmente, uma delas vencerá. Uma delas assumirá o controle completo de sua vida. Uma delas sobreviverá e a outra morrerá. Qual delas será a vitoriosa? Também isso vai depender de sua decisão. Vamos ilustrar o assunto desta maneira. Suponhamos que estão soltas na arena de um circo duas feras envolvidas numa luta de morte. Os empresários do circo separam as duas feras e as colocam em jaulas separadas. Uma delas é fartamente alimentada. Recebe comida e água em abundância. A outra é deixada no esquecimento quase total. Vez por outra alguém dá para ela apenas um bocado de alimento, o suficiente para não morrer. Quando chegar o momento do confronto, qual delas vencerá? Existe alguma dúvida? Você sabe que será a que for melhor alimentada, não sabe? É isso o que acontece na luta das naturezas por obter o controle da nossa vida. Só uma delas assumirá finalmente, por completo, o domínio do território. E sem dúvida será a que for melhor alimentada. Ocorre que os seres humanos, geralmente, alimentam mais a natureza pecaminosa e esta é a causa de nosso fracasso constante, mesmo depois de nossa entrega a Cristo. Deus realizou em nós o milagre da conversão, implantou em nosso coração a nova natureza, mas nós não cuidamos dela, não a alimentamos e em conseqüência a velha natureza está sempre tomando o controle de nossa vida. Como é que se alimentam as naturezas? Através dos cinco sentidos. Tudo o que entra em nossa mente através dos sentidos é alimento para uma ou outra natureza. Especialmente aquilo que vem através da visão e da audição. Este é o motivo por que precisamos ser cuidadosos na escolha dos programas a que assistimos, dos filmes que vemos, das revistas e livros que lemos, das conversas das quais participamos e das músicas que ouvimos. É verdade que enquanto estivermos neste mundo, mesmo sem querer estaremos sempre filtrando comida para a natureza má. Eu não posso evitar ouvir uma música que inspire sentimentos negativos enquanto estou num ônibus ou no local de trabalho, por força das circunstâncias. Não posso também evitar que apareça uma imagem negativa enquanto leio ou assisto ao noticiário. É impossível deixar de ouvir conversas pouco edificantes na escola ou na rua. Mas posso evitar colocar voluntariamente esse tipo de "alimento" em minha mente. É inevitável que vez por outra passem "migalhas" para a natureza má. Mas posso evitar que entre para ela "filé mignon". Posso evitar alimentá-la consciente e voluntariamente. Na realidade a nossa vitória e, em conseqüência, a nossa felicidade na vida cristã, dependem de certo modo de aprendermos a conviver com ambas as naturezas. Como?

Alimentando a natureza de Cristo e matando de fome a outra.
É isso que São Paulo diz quando afirma que "os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne, com suas paixões e concupiscências". Nos tempos de Cristo, quando um homem era crucificado, era declarado legalmente executado e morto, mas na realidade continuava vivo na cruz, sofrendo e agonizando. Às vezes os parentes ou amigos vinham à noite e resgatavam o corpo do executado, cuidavam dele e o homem tornava a viver e muitas vezes voltava à sua vida de delinqüência e crime. O que São Paulo está querendo dizer é que temos que manter nossa velha natureza pregada na cruz. Não deixar que ela desça, e muito menos cuidar dela e alimentá-la.

-"Bem, pastor", você dirá, "até quando terei de conviver com essa luta das naturezas?"
Enquanto estivermos neste mundo, não há modo de nos livrarmos dela completamente, embora possamos tornar a luta mais leve, deixando de alimentar a natureza má. Podemos manter esta última "mortalmente ferida e agonizante", mas jogá-la fora de nosso ser, não. Até uma cristã vitoriosa como Eilen White declarou: "Não podemos dizer *Eu não tenho pecado* enquanto este corpo vil não for mudado e transformado à imagem do corpo glorioso de Cristo".

Mas, graças a Deus, existe uma promessa maravilhosa:
"Digo-lhes isto, meus irmãos: um corpo terreno, feito de carne e sangue, não pode entrar no reino de Deus. Estes nossos corpos mortais não são do tipo adequado para viver eternamente. Contudo eu lhes estou contando este segredo estranho e maravilhoso: nem todos morreremos, porém todos receberemos novos corpos! Tudo acontecerá num instante, num piscar de olhos, quando for tocada a última trombeta. Porque virá do céu um toque de trombeta, e todos os cristãos que já morreram, de repente voltarão à vida, com novos corpos que nunca jamais morrerão; e então, nós, que ainda estivermos vivos, também receberemos, de súbito, novos corpos. Porque os nossos corpos terrenos, os que temos agora e que são mortais serão transformados em corpos celestiais que não podem pecar, mas viverão para sempre. Quando isso acontecer, finalmente, se tornará verdadeira esta escritura: "A morte foi tragada na vitória! Ó morte, onde está agora tua vitória? Onde está o teu aguilhão? Porque o pecado — o aguilhão que causa a morte — terá desaparecido completamente".

Não é isto maravilhoso? Um novo corpo. Sem natureza pecaminosa. Finalmente Deus arrancará a velha natureza de nós e a jogará fora, para sempre. Aí sim, não haverá mais luta, mais conflito interior, mais vontade de pecar. Tornaremos a ser homens com uma só natureza, a natureza de Cristo, perfeita e que se deleita em amar, obedecer e andar nos caminhos de Deus.
Enquanto esse dia não chegar, vamos aprender a conviver com a velha natureza, matando-a de fome, desnutrindo-a, asfixiando-a e alimentando constantemente a nova natureza. Esse foi o segredo que descobriu um dia o apóstolo Paulo. Alguns anos depois de escrever o desesperado capítulo 7 aos Romanos, Paulo escreveu aos Filipenses dizendo: "E agora irmãos, ao terminar esta carta, quero dizer-lhes mais uma coisa. Firmem seus pensamentos naquilo que é verdadeiro, bom e direito. Pensem em coisas que sejam puras e agradáveis!"
Ele está falando do alimento da nova natureza, você percebe? Ele tinha descoberto o segredo da vida vitoriosa. Ele não alimentava mais a natureza velha. A natureza de Cristo tinha assumido agora o controle de sua vida. "Eu próprio não vivo mais, sim é Cristo que vive em mim!" E à medida que os anos passaram, a sua velha natureza ficou cada vez mais fraca, de tal modo que quando chegou o momento de sua morte ele exclamou: "Muito tempo lutei incansavelmente e no meio de tudo eu me conservei fiel ao Senhor. Agora chegou a hora de parar de lutar e descansar: Venci. Lá no Céu me espera uma coroa a qual o Senhor me dará no dia de Seu regresso!"

Ah! meu caro leitor como é bom ver o final da vida de São Paulo! "Venci", diz ele. "Consegui", "alcancei". Emociono-me ao pensar em tais palavras. Quer dizer que eu também posso vencer? Eu também posso ser um vitorioso?
É isso mesmo meu amigo. Você e eu também podemos. Cristo garantiu a nossa vitória na cruz. Ele está bem pertinho de você nas horas de luta. Nos momentos em que você acha que todo mundo o abandonou, que você nunca conseguirá, que você é um fracasso completo, lembre-se de que Ele está aí, amando-o, perdoando-o, sustentando-o. "Porque Deus está operando em vocês, ajudando-os a desejar obedecer-Lhe, e depois ajudando-os a fazer aquilo que Ele quer!"Tudo é uma questão de tempo. Ele virá e não tardará e aí a vitória será definitiva e eterna.

"Deus, obrigado pela promessa de que um dia a luta findará. Ajuda-me, enquanto estiver neste mundo e alimentar a natureza de Cristo e matar de fome a natureza carnal. Essa é minha parte ó Deus, eu sei, mas nem isso consigo. Por favor, vem e faze por mim o que eu sou incapaz de fazer por mim mesmo. Amém!"

Capítulo 6 - Amigos defendem seus amigos

Capítulo 6 - Amigos defendem seus amigos

Vimos no capítulo anterior que dentro de nós existem duas naturezas lutando para obter o controle de nossa vida. O inimigo fará tudo o que puder para que a natureza pecaminosa vença e nos empurre ao pecado. O alvo é a nossa mente porque ela significa a nossa vontade. O território de nossa mente é o campo de batalha. Se ele conquistar nossa mente, conquistou nossa vida. Por isso ele fará
de tudo para capturá-la. Usará drogas, álcool, cigarro, sexo, teorias, filosofias. Não importa o método, não importa a hora, não importa o preço. O seu lema é vencer, derrotar e arruinar. Você descobrirá que a luta não é fácil, que há momentos em sua vida que você se sente como uma plantinha em meio do deserto tentando resistir a um furacão que o levará para a destruição. O que fazer? Tem Deus alguma solução?

Claro que tem. São Paulo diz: "Quero recordar-lhes que vocês devem ser fortalecidos com o imenso poder do Senhor. Vistam-se de toda a armadura de Deus, a fim de que possam permanecer a salvo das táticas e das artimanhas de Satanás. Porque nós não estamos
lutando contra gente feita de carne e sangue, mas contra pessoas sem corpo, os reis malignos do mundo invisível, esses poderosos seres satânicos e grandes príncipes malignos das trevas."

Você vê. Podemos ser vestidos do poder de Deus. Mas a luta não cessará porque nosso inimigo é um inimigo invisível, astuto, covarde e persistente. Ele também é traiçoeiro. Nunca mostra o rosto. Ele se disfarça, se esconde e usa como instrumento para chegar ao controle de nossa vida algo muito sutil chamado tentação.

O que é tentação? É todo esforço que o inimigo faz para levar-nos a pecar. Mas tentação não é pecado. Ninguém precisa se sentir um pecador pelo fato de experimentar a tentação. Se você está deitado na cama e de súbito aparece um pensamento pecaminoso na sua mente, você não precisa pensar que está perdido e se condenar pelo fato de um pensamento negativo aparecer por um ou dois segundos. Eilen White tem uma ilustração muito simples a respeito: "Você não pode impedir", diz ela, "que os passarinhos voem em cima de sua cabeça, mas pode impedir que eles façam seu ninho nela!" Existem muitos e variados tipos de tentações. Na realidade Satanás tem uma fábrica destas. Lá são elaboradas tentações personalizadas. Cada uma especialmente
preparada para cada indivíduo. E o inimigo conhece muito bem o lado fraco de cada ser humano. Para um será o álcool, para outro a inveja, para outro as drogas, para outro a deturpação do sexo. Enfim, a nossa luta é contra um ser inteligente. Ele conhece as nossas origens, o ambiente que crescemos, a herança que recebemos de nossos pais. Fará de tudo para nos enganar. Ele se esconderá atrás
de uma música sensual, atrás de uma mulher bonita, de um rapaz maravilhoso, de uma teoria fascinante. Ele se vestirá de luz, se for preciso. Para os propósitos dele, vale tudo. O fim justifica os meios. Mas tudo que ele fizer para enganar você é apenas tentação, e tentação não é pecado. O inimigo nunca poderá vencer a menos que conte com a colaboração do ser humano. Ele pode fazer o que quiser. Pode rodear a nossa vida de tentações. Vozes. Muitas vozes. Dinheiro, glória, fama, prazer, luzes. Muitas luzes. O que quiser. Tudo não passa de tentação. Ele não pode obrigar-nos a pecar. Se cairmos é porque aceitamos cair. É porque cedemos voluntariamente aos feitiços da tentação.

"Por maior que seja a pressão exercida sobre a alma, a transgressão é o nosso próprio ato. Não está no poder da Terra nem do inferno compelir alguém a fazer o mal. Satanás ataca-nos em nossos pontos fracos, mas não é o caso de sermos vencidos. Por mais severo ou inesperado que seja o ataque, Deus nos proveu auxílio e em Sua força podemos vencer!"
Podemos ilustrar a diferença entre tentação e pecado com o telefone. O telefone pode chamar. A tentação é o telefone chamando. O pecado acontece se você atender. Se você não atender, não existe pecado. Mas o telefone continua chamando. Incomoda? Claro que incomoda, mas não passa de simples tentação. Consideremos agora alguns conselhos que podem ser úteis ao enfrentarmos a tentação. Quando a tentação vier, procure pensar em outra coisa. Já explicamos que a luta é para ocupar o território da mente, então coloque em sua mente promessas bíblicas. Há uma lei física que diz: "Um espaço vazio só pode ser ocupado por um corpo ao mesmo tempo!" O espaço é a nossa mente. Ela nunca pode estar em branco, a não ser quando estamos dormindo. Toda vez que a tentação vier, peça socorro divino, repita um salmo de cor, cante um hino, repita o verso da meditação daquele dia, coloque pensamentos e promessas bíblicas em sua mente. De acordo com a lei física, a tentação não terá vez. O que não podemos é permitir que o pensamento negativo, chamado de tentação, permaneça em nossa mente mais de dois segundos. Não devemos acariciá-lo, não devemos deleitar-nos com ele, porque aí a tentação vira pecado. Primeiro em forma de desejo pecaminoso, que nos levará depois ao ato
pecaminoso, e se repetido conduzir-nos-á ao vício. Outro conselho que devemos lembrar é que o período crítico da tentação não dura mais de 3 minutos. Toda tentação tem um processo. Começa aos poucos e vai batendo e batendo cada vez mais forte à porta da cidadela de nossa mente. Há um momento que parece que não vai dar para resistir. Mas toda tentação chega ao ponto máximo de sua intensidade num período de 3 minutos. Lembra do exemplo do telefone? Ele toca, toca e se você não atender, ele pára de tocar. O bom de tudo é que após passar a investida da tentação, você pode ficar muito mais forte. Cada vez que somos tentados, vencemos ou fracassamos, conquistamos ou somos conquistados. A resposta que dermos à tentação pode deixar-nos mais fortes ou mais fracos.
Se nos entregarmos nos braços de Cristo e vencermos, estaremos melhor preparados para a próxima tentação. Se lutarmos sozinhos e fracassarmos, estaremos mais fracos e vulneráveis quando vier a próxima tentação.

E agora o conselho mais importante: Não olhe para você, olhe para Cristo. Isto é básico porque o resultado final dependerá de quem ocupa os nossos pensamentos. Olhar para nós só trará fracasso e frustração. Aí está a tragédia da humanidade. O mundo diz: "Olhe para você", "descubra seu potencial", "concentre-se para conseguir a força mental", "descubra-se a si mesmo", "explore sua energia interna". Mas dentro de nós só existe angústia, vazio, desequilíbrio e muitas vezes desespero. Deus tem um caminho melhor. Ele nos pede que olhemos para Cristo. Este é um caminho simples, porém seguro.
Conta-se a história de certo faquir da índia, que um dia chegou a uma pequena vila declarando que podia fabricar ouro. As pessoas correram para ver o estranho visitante. O homem colocou num prato grande um pouco de água, algumas gotas de tinta e começou a mexer o prato em círculos, repetindo algumas palavras mágicas. Num momento em que a atenção do público estava distraída, o faquir deixou escorregar da manga um pedaço de ouro dentro do prato, e depois tirou a água da vasilha e mostrou a todos o pedaço de ouro. Todo mundo olhava incrédulo. Um comerciante da cidade quis comprar a fórmula por 500 dólares e o faquir vendeu. "Mas", explicou, "você não pode pensar no macaco de rosto vermelho quando mexer o prato, porque se você pensar nele o ouro nunca aparecerá." O comerciante prometeu que "lembraria sempre que devia esquecer o macaco" mas quanto mais se esforçava por esquecer tanto mais forte ficava em sua mente a imagem do macaco de rosto vermelho. E ele jamais conseguiu o ambicionado ouro.
Não lhe parece familiar este fato? Quanto mais queremos esquecer nossos erros, quando mais queremos jogar fora a tentação, ela está cada vez mais firme.. Olhe para Cristo, que Ele ocupe o território completo de sua mente através de promessas bíblicas.

Tenho uma experiência que marcou minha vida de garoto. Devia ter seis ou sete anos de idade naquela época. Na escola todas as crianças tinham mais ou menos a minha idade. Só havia dois rapazes grandes, de dezesseis anos. Um deles era muito mau, batia nas crianças e tirava as coisas delas à força. Minha mãe costumava me dar cada dia 20 centavos para o lanche. Vinte centavos naquele tempo dava para comprar um sorvete de morango e ainda restava troco para comprar amendoim torrado. Tenho a impressão que cada dia me levantava com uma ansiedade tremenda de ir para a escola por causa do sorvete e do amendoim, e não por causa da aprendizagem. Um sorvete era a maior alegria para um garoto de seis anos.
Um dia, a caminho da escola, aquele rapaz mau saiu ao meu encontro e me pediu a moeda. Resisti, mas ele me dobrou o braço e, à força, tirou minha moedinha. "Você está vendo aquele homem sem braço?", disse depois para mim, apontando um rapaz maneta que morava no bairro. "Sabe por que não tem braço? Eu cortei o braço dele. E se você contar para sua mãe ou para a professora que tirei sua moeda, corto também seu braço." Aí começou minha tragédia. Dia após dia entregava a moedinha para ele. Isso causava uma revolta dentro de mim. O pior de tudo era que não podia avisar a ninguém. Não queria perder o braço. Tornei-me uma criança triste, chorava à noite sozinho. Não tinha mais motivação para ir à escola. Às vezes, na hora do recreio, aquele rapaz mau comprava um sorvete com meu dinheiro e tomava perto de mim, zombando e me fazendo sofrer. O que podia fazer uma criança de seis anos contra um rapaz de dezesseis? Certo dia, na hora do recreio, eu estava contemplando as crianças brincando, quando aquele rapaz mau bateu numa delas. Naquele momento apareceu o outro rapaz grande da escola e deu-lhe um tapa. Para minha surpresa o rapaz mau não teve coragem de enfrentá-lo. Uma idéia brilhou em minha mente. Procurei o outro rapaz e disse: "Você gostaria de ganhar 10 centavos todo dia?"E contei a história toda. O rapaz prometeu me proteger. Combinamos que no dia seguinte ele me esperaria no lugar onde o rapaz mau me aguardava diariamente. Aquela noite quase não dormi."Amanhã", pensava, "será meu grande dia. Nunca mais ninguém vai tirar o que é meu!" No dia seguinte levantei-me cedo. Recebi a moeda de minha mãe e me dirigi à escola. Lá, no lugar de sempre estava o rapaz perverso me aguardando. Dessa vez não olhei para ele. Segui meu caminho, mas ele me alcançou e me pediu a moeda. "Nunca mais, ouviu? Nunca mais vou lhe entregar a moeda", disse eu olhando desafiadoramente para os olhos dele. Meu verdugo quase não podia acreditar o que estava ouvindo. Começou a me dobrar o braço. Mas naquele instante, do outro lado da rua saiu meu amigo e nós dois demos uma surra no grandão.
Você está rindo? Também eu sorrio hoje, mas tremo pensando nas horas de angústia e de impotência que uma criança de seis anos viveu. Nós somos a criança e o diabo é aquele rapaz de dezesseis anos. Às vezes ele vem e nos tira, não a ilusão de um sorvete, mas a alegria da vida. Derruba nossos castelos, nossos sonhos, estraçalha nossos planos. Rouba-nos os valores morais, o respeito próprio, arranca de nós a paz e o equilíbrio interno e ri, ri porque se considera vitorioso. E sua gargalhada é como uma bofetada no rosto de Cristo. Às vezes brinca conosco, como o gato com o rato. Deixa-nos sair um pouco, deixa-nos pensar que estamos livres, para depois atacar com força e ferir, machucar e humilhar. Por quê? Por que tem que ser assim?

Do outro lado da rua, lá na montanha solitária foi pendurado um Deus-homem não só para dar perdão, mas também para dar poder. Quando Ele morreu, o inimigo pensou que tinha vencido, mas ao terceiro dia, ressurgiu das entranhas da terra um Cristo vitorioso. Ressuscitou. Hoje vive. Vive para dar poder. Olhe para a tumba vazia. Olhe para o Céu e veja o gigante da História disposto a vencer em seu favor. Cristo venceu! Venceu Seu inimigo no deserto. Venceu-o na cruz. Venceu-o na morte Só resta vencer em nosso
coração. Aí a decisão é nossa. Ele não pode vencer em nosso coração se não permitirmos. Nosso inimigo é um inimigo vencido. Está lutando desesperadamente, "como leão buscando a quem devorar sabendo que tem pouco tempo", porque ele reconhece que está vencido.


Conta uma lenda antiga que um guerreiro estava lutando na batalha, com a cabeça decepada, mas estava tão envolvido na luta que mesmo sem cabeça estava matando muita gente, até que alguém olhou
para ele e disse: "Você está sem cabeça. Você está morto." Aí o guerreiro caiu e parou de lutar.

É isso aí meu amigo. Estamos lutando contra um inimigo sem cabeça. Cristo já o venceu. Vencerá também em seu coração? Você nunca está sozinho. "Satanás não pode sofrer que se apele para seu poderoso Rival, pois ele teme e treme diante de Sua [de Cristo] força e majestade. Ao som de fervorosa oração, treme toda a hoste de Satanás... E quando anjos todo-poderosos, revestidos da armadura do
Céu, vêm em auxílio da desfalecida e perseguida alma, Satanás e sua hoste retiram-se, pois bem sabem que está perdida a sua batalha!

"Clama ao Senhor, alma tentada! Lança-te, desamparada, indigna, sobre Jesus, e reclama-Lhe a promessa. O Senhor ouvirá. Ele sabe quão fortes são as inclinações do coração natural, e ajudará em cada ocasião de tentação."