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sábado, 31 de dezembro de 2011

Capítulo 1 - Perdido dentro da Igreja.

Capítulo 1- Perdido dentro da Igreja.

Entrou na sala sem bater e jogou-se na cadeira em frente da minha mesa. Suava. Era evidente que estava nervoso. "Pastor, estou perdido!" disse sem rodeios. Apenas três palavras. Seria desnecessário dizer mais para descrever a tragédia de uma alma em conflito. Conhecia bem aquele rapaz. Tínhamos trabalhado juntos muitas vezes, montando programações para jovens. Agora, ali, com os olhos lacrimejantes repetia: "Pode crer Pastor, estou perdido!"

Com a voz cortada pela emoção contou-me seu drama: "Sou adventista de berço. Todo mundo acha que sou um bom cristão. Meus pais acreditam que sou um filho maravilhoso. Os membros da igreja acham que sou um jovem consagrado. Eles até me nomearam Diretos dos Jovens. Muitas vezes ouço os pais dizerem a seus filhos: *Gostaria que você fosse como aquele rapaz.* Todos acham que sou um modelo de cristão, mas não é verdade Pastor, eu sou uma miséria. Acabo de fazer algo horrível e não é a primeira vez. Fiquei desesperado, angustiado como das outras vezes. Tive vontade até de morrer. Eu não sou o que todos pensam que sou."

Tentei dizer alguma coisa, mas ele cortou: "Eu não quero ser assim Pastor, eu quero ser um cristão de verdade, mas não consigo. Tenho lutado tantas vezes, tenho me esforçado, mas sempre acabo derrotado." Doeu-me ver assim aquele jovem. "O senhor está desapontado comigo, não está?", perguntou depois, com ansiedade. Despontado? Eu tinha era um nó na garganta. Procurei esconder minha tristeza, minha dor, porque na realidade o drama não era só daquele jovem. Eu tinha ali muitos jovens de minha igreja e é até possível que aquela tarde você também estivesse assentado naquela cadeira.

"Pastor, estou perdido!" Perdido? Sim, perdido dentro da igreja. É possível estar perdido dentro da igreja? Infelizmente é, sim. Existem os que, como no caso desse jovem, estão perdidos fazendo coisas erradas enquanto ninguém vê, mas existe outra classe de perdidos: aqueles que fazem tudo direito, cumprem aparentemente tudo que a igreja pede; vivem preocupados, muitas vezes, com detalhes de regulamentos e normas, mas estão igualmente perdidos. Lembro-me do jovem rico. Era um rapaz como qualquer jovem da igreja hoje. Era membro de uma congregação cujos líderes se preocupavam muito com normas, leis e regulamentos. "Não pode fazer isto", "Não pode fazer aquilo", "Fazer isto é pecado", "Fazer aquilo também é pecado". Aquele jovem cresceu tentando um conceito errado de Deus. Imaginava-O assentado no Seu trono de justiça, ditando regras, com o rosto sério e uma vara na mão, pronto para castigar o desobediente. Desde pequeno seus pais e os líderes da igreja exigiram o fiel cumprimento de todas as normas. Eram líderes preocupados com a imagem da igreja. Atualizando um pouco a história, se uma garota vestisse calça comprida, por exemplo, eles à levariam a comissão; a jovem, como amava a sua igreja deixaria de usar essa roupa e todo mundo na igreja ficaria feliz, mas ninguém estaria preocupado com o que aconteceria lá no fundo do coração da moça. Importava era que ela cumprisse a norma, que ela fosse um bom membro da igreja. E o jovem rico aprendeu desse modo a cumprir todas as normas e leis. Aparentemente era um jovem bem-comportado, ativo na igreja, participava das programações e cultos, podia ser apontado como exemplo para outros, mas alguma coisa estava errada lá no fundo: Não era feliz, tinha a sensação de que estava perdido apesar de cumprir tudo.

Certo dia, anunciaram a chegada de Jesus à sua cidade. A história está registrada no capítulo 10 de Marcos. Os líderes da igreja foram os primeiros a sair ao encontro de Jesus, sempre preocupados com detalhes da lei e das normas: "É lícito marido repudiar sua mulher?" "É pecado cortar o cabelo?" "É pecado orar assentado?" "É pecado ter um pátio de recreações ao lado do templo?" "É pecado ir à praia?" . O Senhor Jesus não Se deteve muito tempo a discutir com eles. Dirigiu-Se aonde estava um grupo de crianças, colocou-as no colo, com amor acariciou-lhes a cabecinha e beijou-lhes os rostinhos inocentes.

O jovem rico ficou emocionado ao ver o quadro. Ele nunca poderia imaginar que Jesus fosse capaz de beijar e fazer um carinho. Não era essa a imagem que ele tinha aprendido acerca do Filho de Deus. Pela primeira vez na vida, teve vontade de abrir o coração a alguém. Correu quando Jesus já estava saindo da cidade, ajoelhou-se perante Ele e disse: "Bom Mestre, que farei para ser salvo? Eu sinto que estou perdido. Não tenho certeza da salvação." Por quê? Acaso não era um bom membro da igreja? Não cumpria todas a normas? Ah! meu caro, cumprir mandamentos nunca foi sinônimo de salvação. Ser um bom membro da igreja não quer dizer estar salvo. É, de algum modo, possível obedecer a tudo e estar completamente perdido. Perdido, dentro da igreja!

O Senhor Jesus tentou levar o jovem do conhecido ao desconhecido. O jovem conhecia a letra da lei, as normas, os regulamentos e Jesus lhe disse: "Guarda os Mandamentos". Este foi um tratamento de choque. "Senhor", disse o jovem confuso, "tudo isso tenho observado desde criança, mas a angústia não desaparece, o desespero aumenta, a sensação de estar perdido é cada vez maior". Jesus olhou para ele com ternura e o amou.

Sabe... Jesus também ama você. Não importa se você é pobre ou rico, se é preto ou branco, se é feio ou bonito. Ele o ama. Ele o compreende. Isso é o que diz a Bíblia. Você é a coisa mais importante para Deus, no momento. Você com suas lutas, com seus fracassos, com seus conflitos, com suas dúvidas e incertezas; você com suas deformações de caráter, com seu temperamento irascível, é objeto de todo Seu amor e carinho. Pode ser que em algum momento de sua vida você sinta que ninguém gosta de você, que seus pais não o compreendem, que seus professores não apreciam seu valor, que a vida lhe negou as oportunidades que deu a outros, que o mundo inteiro não o aceita. Pode até ser que você não goste de você mesmo, nem se aceite. Tudo isso pode, de algum modo, ser verdade, mas Deus gosta de você, Ele o compreende. Neste momento, enquanto você lê estas linhas, Ele está bem perto de você, pronto a ajudá-lo, a socorrê-lo, a valorizá-lo.

Lá na Judéia, além do Jordão, séculos atrás, Cristo olhou com amor o jovem rico. Viu seus conflitos internos, suas lutas, suas angústias. Viu sua desesperada situação: Perdido dentro da igreja, perdido cumprindo todos os mandamentos, perdido obedecendo a todas as normas. *Sabe qual é o seu problema, filho? - disse Jesus - apenas um: Você não Me ama. Em seu coração não há lugar para Mim, em seu coração só há lugar para o dinheiro. Você está disposto a guardar mandamentos, mas você não Me ama, e enquanto não Me amar Eu não aceito nada de você. Não adianta guardar mandamentos, cumprir normas, obedecer a regulamentos; se você não Me ama, nada disso tem sentido e você continuará com essa horrível sensação, com esse vazio na alma. Vamos fazer uma coisa, Meu querido filho, você agora vai para casa, tira do coração o amor às coisas deste mundo, coloca-Me como o centro de sua vida, então venha e siga-Me.* A Bíblia diz que o jovem, (contrariado com esta palavra, retirou-se triste). Que desgraça! Estava mais pronto a guardar mandamentos do que amar o Senhor Jesus. Por quê? Talvez porque é mais fácil aparentar que se é bom do que entregar o coração a Deus. É possível que você esteja pensando: "Felizmente eu não tenho riquezas". Pode ser. Mas, às vezes, não precisamos ter riquezas para destronar Jesus do coração. Seria possível eu amar mais um artista de televisão do que Jesus? Um esporte, uma namorada, uma profissão, os estudos, coisas até boas, poderiam ocupar o lugar de Cristo no meu coração? Poderia ser que eu amasse mais a minha igreja, a doutrina da minha igreja, o nome da minha igreja, do que o Senhor Jesus?

Pergunto a você: Qual deveria ser a nossa primeira preocupação, amar a Jesus ou guardar normas? Às vezes, estamos mais preocupados que os jovens obedeçam às normas e não que amem a Jesus. O interesse de Jesus é diferente: *Dá-Me, filho Meu, o teu coração*, diz Ele enquanto bate à porta do coração humano. Há algo que nunca deveríamos esquecer: é possível de alguma maneira cumprir normas sem amar a Jesus, mas é impossível amar a Jesus e deixar de cumprir as normas. Então, qual deveria ser o nosso primeiro interesse, o nosso grande objetivo? Se o ser humano amar a Jesus com todo seu coração, será incapaz de fazer algo que magoe o seu redentor. Sua vida, em consequência, será uma vida de obediência.

Sabe qual é o nosso grande drama na vida espiritual? sabe por que não somos felizes na igreja? Falta amor por Cristo. Estamos na igreja porque gostamos dela, a sua doutrina nos convenceu, o pastor fez um apelo irrecusável. Estamos na igreja porque nossos pais querem, ou então, para agradar os filhos ou a esposa, ou simplesmente porque todo ser humano tem que ter uma religião, mas não porque amamos a Jesus a ponto de dizer: "Eu não posso viver sem Ti".

-Pastor - disse-me uma velhinha certo dia - tenho quase 60 anos de casada. Pode perguntar a meu marido e ele dirá que sempre fui uma esposa perfeita. Fiz tudo o que uma bos esposa deve fazer, agi sempre do modo certo, mas, nunca fui feliz.
-Por quê?
-Eu não amo meu marido, Pastor.
-Mas então, por que se casou?
A velhinha emocionou-se ao dizer: "Nos meus tempos de mocinha a gente não escolhia marido. Eram os pais que escolhiam marido para a gente. Um dia meu pai disse: 'Filha, daqui a dois meses você vai casar com o filho do meu compadre.' O enxoval foi preparado. A festa ficou pronta e, faltando dois dias para o casamento, conheci meu noivo. Não gostei. Nunca consegui gostar, mas casei, porque tinha que obedecer. Fui uma esposa perfeita, mas nunca fui feliz".

Como ser feliz ao lado de alguém que não se ama? O batismo é uma espécie de casamento com Cristo. Muitos cristãos talvez pudessem dizer: "Senhor, estou na igreja, batizado a cinco, ou dez ou quinze anos. Nesse tempo todo, de alguma maneira, cumpri o que a igreja pede. Mas nunca fui feliz." Por quê? Porque não é possível ser feliz ao lado que alguém que não se ama. Conviver ao lado de alguém que se ama já é uma tarefa difícil, imaginem quando não há amor. Nunca poderemos ser felizes estando na igreja porque nascemos nela, ou através de pressão social, religiosa ou familiar. Todos os motivos só tem algum sentido quando o grande motivo é o amor por Cristo. Se não for assim, a vida cristã se tornará um "inferno", um fardo horrível para se carregar. Fazer as coisas só porque estamos batizados, só porque temos que cumprir as normas de uma igreja que assumimos, só para agradar aos homens é a pior coisa que pode acontecer. Sempre estaremos penando em sair, abandonar tudo, ou então, quando ninguém vê, estaremos fazendo as coisas erradas.

Todas as normas da igreja, todas as coisas que tenhamos que abandonar, tudo que tenhamos que aprender terá algum significado unicamente quando o amor de Cristo constranger nosso ser. A nossa primeira oração não devia ser: "Senhor, ajude-me a guardar Teus mandamentos". mas"Senhor, ajude-me a amar-Te com todo meu ser".

O jovem rico partiu triste e não voltou mais. Estava pronto a ser um bom membro de igreja, mas não a entregar o coração ao Mestre.

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