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sábado, 31 de dezembro de 2011

Capítulo 5 - É Possível Conviver com um Lobo?

Capítulo 5- É Possível Conviver com um Lobo?



-"Pastor, eu acho que não estou convertido. Constantemente sinto vontade de pecar. A minha vida é um permanente conflito. Quero servir a Jesus, mas ao mesmo tempo sinto vontade de fazer coisas erradas. Tem solução para mim?"
A pergunta veio de um rapaz simples de 20 anos, lá do sertão de Pernambuco, embora pudesse ter saído dos lábios de um empresário bem-sucedido dirigindo seu Escort XR3 na Avenida Paulista. O problema é o mesmo para homens e mulheres, jovens e adultos, ricos e pobres. Por alguma razão, temos a idéia de que no momento da conversão a nossa luta acaba e que a partir desse momento não pecaremos mais; seremos perfeitos, no sentido de ser exemplo de vida para outros. Mas por que é que a partir do momento que nos entregamos a Cristo a nossa luta se torna maior e o conflito aumenta?

Antes de mais nada temos que entender o que acontece no momento da conversão. Muitos têm a idéia de que na hora da conversão Deus tira de nós a natureza pecaminosa e a joga fora para sempre, colocando em substituição a nova natureza que gosta de amar e obedecer. Isto não é completamente verdade. Seria maravilhoso se fosse assim, já que nunca mais teríamos vontade de pecar. A fonte da "concupiscência e das paixões deste mundo" não existiria mais. Em conseqüência, nossa vida seria como a de Adão e Eva antes da queda. Infelizmente não é assim que sucedem as coisas. Ao converter-nos, Deus coloca dentro de nós uma nova natureza, a natureza de Cristo. Mas o que acontece com a velha natureza pecaminosa, a natureza de lobo?Ela não sai, como muitos imaginam. Ela fica aí, agonizante. "Aquela parte que em cada um de vocês gosta de pecar, foi esmagada e mortalmente ferida", afirma o apóstolo. E agora? Agora passamos a ser pessoas com duas naturezas: a natureza de Cristo, nova, recém-implantada e a velha natureza pecaminosa, "esmagada e mortalmente ferida" que continua dentro de nós. O ideal seria que a velha natureza permanecesse sempre "mortalmente ferida". Mas essa situação não é definitiva; é circunstancial. Na primeira oportunidade que receber alimento, ela ressuscitará, e se continuar sendo alimentada, ela recuperará completamente as forças e lutará para expulsar de nossa vida a nova natureza. É por isso que depois da conversão a luta aumenta. Existe muito mais conflito num homem depois de sua conversão do que antes dela. Você está surpreso? Tente entender o que estou dizendo. Depois de aceitar a Jesus você pode esperar maior luta em seu coração, um conflito interno, que muitas vezes o levará ao desespero, se você não parar a fim de entender o problema. O assunto é simples.

O homem sem Cristo tem uma só natureza, a natureza com que nasceu e essa natureza faz as coisas erradas na hora que deseja. Não existe ninguém para se opor. Não existe luta, não há conflito. Mas você entregou sua vida a Cristo, você experimentou o milagre da conversão, você tem agora uma nova natureza e ela se opõe à velha. Você entende por que a vida do homem inconverso pode parecer mais leve? Ele só tem uma natureza e ela assume o controle da vida, sem oposição. Mas logo depois da conversão, quando o homem pensa que a velha natureza foi embora, descobre que ela continua dentro e o conflito começa. Ele tem duas naturezas e as duas estão lutando.

Você conhece a história de São Paulo?
Houve um momento em sua vida em que ele chegou à beira da loucura. Na sua carta aos cristãos de Roma ele diz: "Eu não entendo o que faço, porque não faço o que gostaria de fazer. Ao contrário, faço justamente aquilo que odeio.. E isto mostra que de fato já não sou eu quem faz isso, mas o pecado que vive em mim.. Assim, eu sei que é isto que acontece comigo.. Dentro de mim sei que gosto da Lei de Deus. Mas vejo que uma lei diferente age em meu corpo, uma lei que luta contra aquela que minha mente aprova!"
Entende, meu amigo? Duas naturezas, duas forças lutando dentro do apóstolo Paulo. Um conflito que o levou ao desespero, porque no verso seguinte ele clama: "Que situação terrível esta em que estou! Quem é que me livrará da minha escravidão a esta mortífera natureza interior?"

Agora pergunto.. No momento em que Paulo escreveu a carta aos Romanos estava ou não convertido? Claro que estava. Ele tinha sido convertido lá na estrada de Damasco, quando se encontrou com Jesus e caiu do cavalo. Porém, aqui está a experiência de um homem convertido sentindo dentro de si o conflito que produz a luta das duas naturezas. Não se preocupe meu amigo por causa da tensão e do conflito que vêm após sua conversão. Duas naturezas, entende? Você e eu somos homens com duas naturezas e elas não gostam uma da outra. O apóstolo Paulo um dia conseguiu entender este conflito, e aí ele escreveu: "Isto é o que eu quero dizer: Deixem que o Espírito de Deus dirija suas vidas, e não obedeçam os desejos da natureza humana. Porque o que a nossa natureza humana deseja é contra o que o Espírito quer, e o que o Espírito quer é contra o que a natureza humana deseja. Os dois são inimigos, e por isso vocês não podem fazer o que querem!"

"Pastor", você dirá, "quer dizer que toda minha vida vai ser uma vida de conflito?"
Não, necessariamente; e isso vai depender de sua decisão. As duas naturezas estão hoje em luta mas, finalmente, uma delas vencerá. Uma delas assumirá o controle completo de sua vida. Uma delas sobreviverá e a outra morrerá. Qual delas será a vitoriosa? Também isso vai depender de sua decisão. Vamos ilustrar o assunto desta maneira. Suponhamos que estão soltas na arena de um circo duas feras envolvidas numa luta de morte. Os empresários do circo separam as duas feras e as colocam em jaulas separadas. Uma delas é fartamente alimentada. Recebe comida e água em abundância. A outra é deixada no esquecimento quase total. Vez por outra alguém dá para ela apenas um bocado de alimento, o suficiente para não morrer. Quando chegar o momento do confronto, qual delas vencerá? Existe alguma dúvida? Você sabe que será a que for melhor alimentada, não sabe? É isso o que acontece na luta das naturezas por obter o controle da nossa vida. Só uma delas assumirá finalmente, por completo, o domínio do território. E sem dúvida será a que for melhor alimentada. Ocorre que os seres humanos, geralmente, alimentam mais a natureza pecaminosa e esta é a causa de nosso fracasso constante, mesmo depois de nossa entrega a Cristo. Deus realizou em nós o milagre da conversão, implantou em nosso coração a nova natureza, mas nós não cuidamos dela, não a alimentamos e em conseqüência a velha natureza está sempre tomando o controle de nossa vida. Como é que se alimentam as naturezas? Através dos cinco sentidos. Tudo o que entra em nossa mente através dos sentidos é alimento para uma ou outra natureza. Especialmente aquilo que vem através da visão e da audição. Este é o motivo por que precisamos ser cuidadosos na escolha dos programas a que assistimos, dos filmes que vemos, das revistas e livros que lemos, das conversas das quais participamos e das músicas que ouvimos. É verdade que enquanto estivermos neste mundo, mesmo sem querer estaremos sempre filtrando comida para a natureza má. Eu não posso evitar ouvir uma música que inspire sentimentos negativos enquanto estou num ônibus ou no local de trabalho, por força das circunstâncias. Não posso também evitar que apareça uma imagem negativa enquanto leio ou assisto ao noticiário. É impossível deixar de ouvir conversas pouco edificantes na escola ou na rua. Mas posso evitar colocar voluntariamente esse tipo de "alimento" em minha mente. É inevitável que vez por outra passem "migalhas" para a natureza má. Mas posso evitar que entre para ela "filé mignon". Posso evitar alimentá-la consciente e voluntariamente. Na realidade a nossa vitória e, em conseqüência, a nossa felicidade na vida cristã, dependem de certo modo de aprendermos a conviver com ambas as naturezas. Como?

Alimentando a natureza de Cristo e matando de fome a outra.
É isso que São Paulo diz quando afirma que "os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne, com suas paixões e concupiscências". Nos tempos de Cristo, quando um homem era crucificado, era declarado legalmente executado e morto, mas na realidade continuava vivo na cruz, sofrendo e agonizando. Às vezes os parentes ou amigos vinham à noite e resgatavam o corpo do executado, cuidavam dele e o homem tornava a viver e muitas vezes voltava à sua vida de delinqüência e crime. O que São Paulo está querendo dizer é que temos que manter nossa velha natureza pregada na cruz. Não deixar que ela desça, e muito menos cuidar dela e alimentá-la.

-"Bem, pastor", você dirá, "até quando terei de conviver com essa luta das naturezas?"
Enquanto estivermos neste mundo, não há modo de nos livrarmos dela completamente, embora possamos tornar a luta mais leve, deixando de alimentar a natureza má. Podemos manter esta última "mortalmente ferida e agonizante", mas jogá-la fora de nosso ser, não. Até uma cristã vitoriosa como Eilen White declarou: "Não podemos dizer *Eu não tenho pecado* enquanto este corpo vil não for mudado e transformado à imagem do corpo glorioso de Cristo".

Mas, graças a Deus, existe uma promessa maravilhosa:
"Digo-lhes isto, meus irmãos: um corpo terreno, feito de carne e sangue, não pode entrar no reino de Deus. Estes nossos corpos mortais não são do tipo adequado para viver eternamente. Contudo eu lhes estou contando este segredo estranho e maravilhoso: nem todos morreremos, porém todos receberemos novos corpos! Tudo acontecerá num instante, num piscar de olhos, quando for tocada a última trombeta. Porque virá do céu um toque de trombeta, e todos os cristãos que já morreram, de repente voltarão à vida, com novos corpos que nunca jamais morrerão; e então, nós, que ainda estivermos vivos, também receberemos, de súbito, novos corpos. Porque os nossos corpos terrenos, os que temos agora e que são mortais serão transformados em corpos celestiais que não podem pecar, mas viverão para sempre. Quando isso acontecer, finalmente, se tornará verdadeira esta escritura: "A morte foi tragada na vitória! Ó morte, onde está agora tua vitória? Onde está o teu aguilhão? Porque o pecado — o aguilhão que causa a morte — terá desaparecido completamente".

Não é isto maravilhoso? Um novo corpo. Sem natureza pecaminosa. Finalmente Deus arrancará a velha natureza de nós e a jogará fora, para sempre. Aí sim, não haverá mais luta, mais conflito interior, mais vontade de pecar. Tornaremos a ser homens com uma só natureza, a natureza de Cristo, perfeita e que se deleita em amar, obedecer e andar nos caminhos de Deus.
Enquanto esse dia não chegar, vamos aprender a conviver com a velha natureza, matando-a de fome, desnutrindo-a, asfixiando-a e alimentando constantemente a nova natureza. Esse foi o segredo que descobriu um dia o apóstolo Paulo. Alguns anos depois de escrever o desesperado capítulo 7 aos Romanos, Paulo escreveu aos Filipenses dizendo: "E agora irmãos, ao terminar esta carta, quero dizer-lhes mais uma coisa. Firmem seus pensamentos naquilo que é verdadeiro, bom e direito. Pensem em coisas que sejam puras e agradáveis!"
Ele está falando do alimento da nova natureza, você percebe? Ele tinha descoberto o segredo da vida vitoriosa. Ele não alimentava mais a natureza velha. A natureza de Cristo tinha assumido agora o controle de sua vida. "Eu próprio não vivo mais, sim é Cristo que vive em mim!" E à medida que os anos passaram, a sua velha natureza ficou cada vez mais fraca, de tal modo que quando chegou o momento de sua morte ele exclamou: "Muito tempo lutei incansavelmente e no meio de tudo eu me conservei fiel ao Senhor. Agora chegou a hora de parar de lutar e descansar: Venci. Lá no Céu me espera uma coroa a qual o Senhor me dará no dia de Seu regresso!"

Ah! meu caro leitor como é bom ver o final da vida de São Paulo! "Venci", diz ele. "Consegui", "alcancei". Emociono-me ao pensar em tais palavras. Quer dizer que eu também posso vencer? Eu também posso ser um vitorioso?
É isso mesmo meu amigo. Você e eu também podemos. Cristo garantiu a nossa vitória na cruz. Ele está bem pertinho de você nas horas de luta. Nos momentos em que você acha que todo mundo o abandonou, que você nunca conseguirá, que você é um fracasso completo, lembre-se de que Ele está aí, amando-o, perdoando-o, sustentando-o. "Porque Deus está operando em vocês, ajudando-os a desejar obedecer-Lhe, e depois ajudando-os a fazer aquilo que Ele quer!"Tudo é uma questão de tempo. Ele virá e não tardará e aí a vitória será definitiva e eterna.

"Deus, obrigado pela promessa de que um dia a luta findará. Ajuda-me, enquanto estiver neste mundo e alimentar a natureza de Cristo e matar de fome a natureza carnal. Essa é minha parte ó Deus, eu sei, mas nem isso consigo. Por favor, vem e faze por mim o que eu sou incapaz de fazer por mim mesmo. Amém!"

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